Essa história foi um espetáculo! - Análise Donna Summer Musical
Olá, querido leitor! <3
Seja muito bem-vinde, eu sou a Carol Moreiras, tenho dezesseis anos e aqui neste blog falo sobre cultura, então pode pegar sua xícara e se preparar para tomar um chá cultural comigo! Hoje iremos conversar sobre o espetáculo “Donna Summer Musical”, que está em cartaz no Teatro Santander.
Já tenho um carinho especial por essa peça, pois vi com a mamãe para comemorar o meu aniversário e foi ela que me deu a inspiração final para criar esse blog! Já estudava a ideia há algum tempo, mas depois de assistí-la, tive que criar para analisá-la : ) Gostei demais do espetáculo, então se fosse falar sobre tudo o que amei nele, essa postagem teria 10 páginas no mínimo, logo irei falar tudo o que me tocou mais e eu achei mais importante, para você também ter curiosidade de ir assistir, para saber sobre o que eu não falei aqui!
Dirigido por Miguel Fallabella, o espetáculo original da Brodway (2018) chegou ao Brasil ainda em 2020, entretanto, devido ao início da pandemia, teve suas apresentações interrompidas. No dia 2 de setembro de 2021 ele voltou com tudo para os palcos, sendo sucesso de bilheteria e alvo de aclamadas críticas do público. Devo concordar que todo o encanto é com razão.
A peça conta a história de Donna Summer, que recebeu o título de rainha do disco nos anos 70, se consagrou como Diva Donna e teve uma vida que apesar dos (grandes) problemas foi uma grande festa! A artista era uma mulher, negra, inicialmente pobre e religiosa que tinha o sonho de ser cantora, só com essas informações a gente pode imaginar que não deve ter sido fácil, não é?
Logo, antes de assistir eu estava com medo de que sua vida não fosse tratada com sensibilidade, que a representação dela como mulher fosse hiper sexualizada ou então hiper santificada, já que tanto os roteiristas Des McAnuff e Robert Cary, quanto o diretor são homens. Entretanto fui surpreendida e a representação foi sensacional, a sensualidade dela não é abandonada em nenhum momento, é mostrado com delicadeza o como isso é algo natural e inclusive bom para ela, porém não a define.
Na cena da gravação do hit “I love to love you, baby”, que a faz estourar nos Estados Unidos, essa sexualidade fica bem aparente. Enquanto ela canta normalmente, ela sente que não há emoção suficiente, então recorre à masturbação para cantar no tom que a música merecia ser representada. Claro, a cena foi feita de forma extremamente artística e não explícita, então passou a mensagem de que tudo isso pode ser algo natural e bonito.
Porém, obviamente, como qualquer mulher, depois de que a música foi lançada, as pessoas só a conheciam devido a isso e a limitavam ao rótulo da sensualidade. Ela se incomoda, com razão, com isso, há até uma fala da peça em que a jovem Summer diz: “As pessoas nem sabem que eu sei cantar, elas só me escutam gemer e suspirar.”. Além desse, também tiveram diversos outros momentos que seu gênero foi alvo de machismo e a peça permeia por várias piadas ácidas para criticar isso.
Também é importante adicionar que ela era uma mulher negra nos anos 70, então como é mostrado na peça, quando ela foi para a Europa, ela chamou muita atenção e disse que as pessoas se aproximavam dela só para, literalmente, tocar em sua pele. Se hoje para a maioria das pessoas isso é (ou deveria ser) algo inconcebível, naquela época era comum, porém, já absurdo e extremamente invasivo. Summer se incomoda com isso, se sente invisibilizada e desrespeitada. Tudo na peça indica essa tristeza e esse incômodo que ela sente, o timbre na voz muda quando ela vai falar sobre isso e a música torna-se mais devagar ao mesmo tempo que forte. Logo, toda a dor que ela sofreu por ser parte de minorias sociais foi bem aparente na peça e é representada de forma cuidadosa.
Dentro do mesmo tema há uma analogia com a literatura infantil. Quando criança, a cantora diz diversas vezes que é o patinho feio, pois todo mundo diz que ela é, apenas por ela ser diferente do padrão branco. Entretanto, sua mãe não permite que ela fale dela com negatividade e sempre a acalma dizendo que no final da história, o patinho feio vira um lindo cisne negro. Na história original, o cisne não é negro, logo essa analogia torna tudo mais bonito e sensível, eu achei genial e lindíssimo.
A forma escolhida para contar a história teve grande impacto nesse quesito da boa representação. Donna Summer é divida em três esferas: adolescente (Amanda Souza), jovem-adulta (Jennifer Nascimento) e, já com a carreira consagrada, adulta em si, tendo por volta de uns 40 anos (Karin Hils). A mais velha além de atuar como a cantora em sua idade, também é a narradora da peça, contando então a sua própria história para o público. Devido a isso é linda a forma que ela é uma personagem, observadora e uma espécie de grilo-falante do pinóquio para as suas formas mais jovens, em diversos momentos da peça ela dialoga com suas versões, tentando aconselhá-las e fazer evitá-las sofrimentos pelos quais ela passou.
É genial a maneira como o figurino foi essencial para diferenciar as três representações. O ator Theodoro Cochrane, que já fez doze novelas na rede globo, foi super criativo em sua criação. Além de utilizar da psicologia das cores para nos fazer ter uma melhor experiência, vivenciando as sensações de Summer, a vestindo com roupas roxas ou vermelhas quando está no auge do luxo e do amor ou pretas e acinzentadas quando está triste, ele utilizou o recorte das roupas para fazer com que o público visualizasse perfeitamente qual das versões da cantora estava no palco.
Há vários momentos em que as três estão em cena utilizando a mesma base de figurino, como por exemplo um vestido azul com glitter, porém a Summer jovem utiliza um vestido acima do joelho com uma saia rodada, a jovem adulta, um vestido um pouco mais sensual e a narradora, Diva Summer, uma roupa que represente sua maturidade, sem deixar para trás a vivacidade e a festância! Deste modo, o espetáculo é demais na comunicação não verbal e na expressão através das palavras (e das músicas também).
Foto de Caio Gallucci - O figurino
Ademais, não podemos esquecer da trilha sonora, já que é um musical né kkkkkkkkk! Quando escuto uma música, gosto de pensar no que fez o cantor a compor, em qual circunstância da vida ele estava para ter a inspiração para criá-la e esse espetáculo, com direção musical de Carlos Bauzys, sanou todas as dúvidas que eu poderia vir a ter em relação às canções de Summer. Ele conta o processo por trás da criação de suas músicas. Quando ela está amando, canta “I love to love you baby”. Quando toma a direção de suas finanças, a trilha é “She Works Hard for the Money”. Então além da trilha nos fazer acompanhar a história de modo mais real e compreensivo, também nos faz entender o que se passa na cabeça dela. Além das músicas da rainha do disco, a peça também conta com canções de Giorgio Moroder e Paul Jabara.
A forma que a protagnoista é apaixonada por arte é linda. Acho super divertido o como cada um prefere um tipo de arte e vê todos os outros com base nesse. Quando Summer vai a um museu pela primeira vez fica encantada e diz que os quadros são como música sem palavras, achei lindíssimo, porém eu diria que são como poesia em forma de tinta : ) Brincadeiras a parte, ela era uma artista e essa relação de amor com a criatividade foi feita maravilhosamente.
Entre toda essa infinidade de elogios, só teve uma coisa no espetáculo que me incomodou. A cantora, durante um certo período da vida, sofreu de depressão e toda a representação enquanto ela ainda tinha a doença foi super bem feita, de maneira artística e delicada. Porém a cura dela acontece quando suas irmãs a dizem para tentar ir atrás do que realmente importa, de modo a reacender a sua chama. Dessa maneira, ela que sempre foi religiosa, volta para a Igreja, da onde tinha se afastado por alguns motivos (que para saber, só vendo a peça) e volta a ficar bem. Isso dá uma impressão de que o que a curou da doença foi Deus, ajudando a reforçar a falsa ideia de que “depressão é falta de Jesus no coração”, que muitas pessoas dizem para invisibilizar indivíduos que sofrem com isso.
O espetáculo é narrado na visão da própria Donna Summer, como disse anteriormente, é como se ela mesma contasse sua história, com a interpretação dos fatos dela mesma, então é uma coisa que nós podemos relevar. Ainda assim, acredito que poderia ter sido feito com um pouco mais de atenção e cuidado, principalmente com a sua estréia sendo em Setembro, mês da prevenção ao suicídio. Acredito que a correção disso seria bem simples, já que como a Diva Summer vivia nos dias de hoje, ela saberia as discussões que ocorrem no tópico da saúde mental atualmente, então poderia dizer: “Agora eles dizem que depressão não é falta de Deus, mas eu posso dizer com certeza que foi ele que me curou, não sei vocês, mas para mim isso aconteceu!”. Dessa maneira, já ficaria claro que foi uma experiência pessoal e a interpretação que ela fez sobre o ocorrido.
Por fim, a peça passa a linda mensagem de que somos fortes e que tudo pode melhorar, sempre. A vida dela é uma montanha russa, ao mesmo tempo que é uma festa, tornando tudo mais brilhante e divertido. Seu empresário sempre disse a ela: “Para que ter a Lua se podemos ter as estrelas?”, lembrando muito a famosa frase de Frida Khalo: “Pés, para que os quero, se tenho asas para voar?”. Os contextos e as histórias são díspares, entretanto essas duas mulheres tem algumas coisas em comum: elas lutaram pelo o que acreditaram até o fim, com amor e resiliência, passando por cima de obstáculos e utilizando da arte, de alguma forma, para sobreviver. Sendo então, completamente admiráveis, assim como esse espetáculo.
Por,
Carol Moreiras
Lindíssimo! Me encantei com sua escrita, a cada parágrafo, a cada detalhe escrito...💖💖
ResponderExcluirMuito obrigada pela delicadeza do seu comentário!! ❤️❤️❤️
ExcluirConsegues nos levar para dentro do espetáculo. Crítica adorável. Me deu uma vontade danada de assistir ao musical🙂
ResponderExcluirVale suuuuper a pena, padinho!! Obrigada pelo elogio ❤️
ExcluirVocê é uma blogueira tão descritiva que pude visualizar praticamente todo o musical, a riqueza da sua análise é absurdamente sensacional!!!
ResponderExcluirFico muito feliz que minha escrita tenha te passado essa sensação, titia!! Obrigada por ter utilizado seu tempo para ler e comentar com tanto carinho ❤️
ExcluirCarol, o texto ficou incrível! A riqueza de detalhes na sua análise me deixou super curiosa pra ver a peça!!
ResponderExcluirAmiga, muito muito obrigada!! Eu me sinto exatamente dessa forma quando leio seus textos também <3
ExcluirQue análise rica em referências: Literatura Infantil, masturbação femina (por muitos, ainda considerada como um tabu), depressão, Setembro Amarelo, religião, Frida! Ufaaaa!!!! É um caleidoscópio de boas discussões e suas visões que nos levam a refletir sobre vários temas. Que delícia mergulhar pelo seu Universo de menina-mulher... Você só tem 16 anos mesmo? Rsrsr Obrigada por nos presentear com sua escrita!
ResponderExcluirAaaaah mamãe kkkkkkkkkkk tenho 16 anos mesmo, mas aprendi a ser sonhadora e conectar assuntos com você!! Eu que agradeço por incentivar minha escrita e meus desejos sempre! ❤️❤️
ExcluirQue texto incrível Carol!!
ResponderExcluirObrigada, Bela linda!!!
ExcluirOi Carol! Muito legal sua análise. Pense naquilo que te falei: crie uma conta no Instagram, ou torne a sua pública, para divulgar o seu blog. Pegue um parágrafo, uma frase, ou até mesmo um trecho da peça que esteja disponível no YouTube e convide as pessoas a entrarem aqui. Use as famosas hasttags (#) para que sua publicação não fique restrita aos seus seguidores, marque os atores, produtores da peça, o teatro Santander, enfim, tudo que esteja envolvido a peça . Quando fizer de um livro, faça o mesmo: marque seu autor, a editora, enfim...... Você tem um futuro brilhante pela frente, talento não lhe falta! PARABÉNS!!!
ResponderExcluirAle, agradeço pelas dicas!! Optei por abrir meu Instagram e na próxima quarta farei isso que você recomendou! Muitooo obrigada e fico feliz que tenha gostado da análise 💕
ExcluirBem interessante sua crítica. Eu assisti a peça há algumas semanas. Se for possível, veja os demais musicais( Barnum e Charlie).
ResponderExcluirQue bom que gostou da crítica, Ricardo. A peça é ótima, não é? Tentarei ver os musicais, espero que de certo!!
ExcluirEu assisti o espetáculo e é realmente incrível, só não tinha me atentado ao fato da masturbação. Vc relatou muito bem, está de parabéns, eu revivi o espetáculo ao ler seu escrito.
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