Meu coração está destruído, mas é com amor - Laura Dean Vive Terminando Comigo
Olá, querido leitor! <3
Seja muito bem-vinde, sou a Caroline Moreiras, tenho dezesseis anos e aqui neste blog falo sobre cultura, então pode pegar sua xícara, sentar-se confortavelmente e se preparar para tomar um chá cultural comigo! Hoje vamos bater um papo sobre a graphic novel “Laura Dean Vive Terminando Comigo”, da autora Mariko Tamaki e da ilustradora Rosemary Valerio-O'Connell, que ficou famoso no booktok por um tempo, mas não o suficiente.
Além dessa HQ, já havia lido “Persépolis” da Marjane Satrapi (que recomendo demais), mas foi com a escola e costumava dizer que não era fã do gênero. “Laura Dean Vive Terminando Comigo” causou um impacto diferente, pois li por livre e espontânea vontade e achei sensacional. Gosto das HQs porque dá para ler bem rápido (esse li em 3 horas) e tem vários elementos para compor a sua visão da história.
Sinceramente, não sei por onde começar a elogiar esse livro. Absolutamente todas as pessoas na adolescência deveriam lê-lo. Em muitos lugares vi a classificação indicativa de +15, mas acredito que esse é o tipo de obra que deva ter versões infantis para que todos leiam assim que introduzidos ao primeiro amor.
A Freddy (protagonista) é doce e apaixonada, mas ela está apaixonada por uma garota que é apaixonada apenas por ela mesma e isso dói tanto - nela e no leitor - de forma tão delicada. A história toda foi perfeitamente bem feita, o que mais me encantou foi a forma de que os outros personagens não foram deixados de lado, nós acompanhamos suas vivências e desenvolvimento também. Os personagens são esféricos: vemos seus defeitos e qualidades, além de sua forma de ver o mundo em diversas fases do texto. Isso faz com que o leitor consiga se apegar a eles, é demais!
No quesito representatividade, a principal é LGBTQIA+, mas também há personagens com cores e corpos diferentes, mesmo que essa diversidade não seja falada no livro. O relacionamento principal é lésbico, trazendo várias referências à cultura pop e a história da comunidade. Além disso, não há homofobia na história, toda a família e amigos da protagonista sabem que elas namoram e aceitam completamente, estando realmente mais preocupados com o bem-estar dela na relação, do que com quem ela acontece.
Sabendo disso, podemos dizer que o tema principal do livro é o relacionamento tóxico, mas não é só isso, ele fala sobre amizade, gravidez na adolescência, redescoberta da vida, autoestima e amor, em todas as suas formas. Tudo isso na visão de uma personagem que vive todas essas coisas, ou pelo menos as acompanha de perto.
Ele nos mostra que um relacionamento não precisa chegar no nível de agressão física para ser ruim, mostra como os sinais disso são mostrados desde o início e o como não devem ser ignorados. A negligência que Laura Dean faz com Freddy faz com que ela se sinta invisível, causando impactos para além da forma como ela se comporta em relacionamentos, estendendo-se para as amizades, as quais ela reproduz os comportamentos de Laura. Logo, a autora fez questão de mostrar de forma cuidadosa o como isso faz uma pessoa se sentir, o como pode ser feito de forma sútil e diversas vezes ressalta que a protagonista não está sozinha, de modo a mostrar à pessoas que passam por isso que elas também não estão.
Frase que reflete as emoções de Freddy
Deste modo, reforço e explico o que disse em relação à classificação indicativa: muitas vezes quando alguém explica essas coisas, as pessoas conseguem entender perfeitamente, mas não visualizar exatamente o que acontece no relacionamento delas que as incomoda. A literatura e esse livro em específico ilustram isso, deixando bem claro tudo o que ocorreu entre Freddy e Laura Dean, permitindo que os leitores entendam suas próprias vivências através delas, encontrando, inclusive, caminhos para a cura.
Por fim, é importante ressaltar que além da comunicação verbal com o livro temos a não verbal. As ilustrações são sensacionais e acompanham uma paleta de cores pautada na psicologia delas. Todas as páginas são em tons de rosa e cinza. Rosa é uma analogia a Freddy, pois significa doçura, estando ligado também ao que ela tentava enxergar no relacionamento. Já o cinza, representa Laura Dean e o que a sua frieza fazia a protagonista sentir. Também, em grande parte da história Freddy é cinza, pois se sentia não amada de verdade, querendo dizer, algumas vezes, em contrapartida com a tristeza, que ela simplesmente estava apática.
Paleta de cores: com seus amigos Freddy fica rosa, sentindo-se amada.
Portanto, podemos concluir que a história é detalhista e se preocupou em fazer tudo com cuidado, me deixando apaixonada por tudo. Então, mesmo que ele tenha me machucado um pouco (porque eu fiquei triste), eu aceitaria lê-lo várias outras vezes! Espero que Ana Vice não se decepcione com essa frase...Não entendeu a referência? Leia Laura Dean Vive terminando comigo!
Obrigada por ter lido as minhas impressões sobre essa HQ!! Até a próxima quarta-feira : )
Por,
Carol Moreiras
Poxa Carol,
ResponderExcluirJá resenhando sobre assuntos tão complexos. Relação tóxica (embora existente desde sempre hoje é debatida, e como reconhecê-la para se proteger), gravidez adolescente (educação sexual resolve ? a "culpa" é por viver numa família desestruturada e a gravidez acaba sendo um passaporte para fugir desse ambiente ? ...), amor não correspondido e suas consequências (me lembrou o filme Tove), relação LGBTQIA+ (esse universo tão incompreendido e tratado com violência, que deveria "apenas" ser respeitado). Infelizmente 😕 com tão pouca idade e seu mundo precoce os jovens já tenham que enfrentar
tão duras realidades.
Verdade, padinho, esses temas são vividos por pessoas da minha idade e isso é, de fato, muito triste, adolescentes (e pessoas de qualquer outra idade) não deveriam passar por homofobia (em diversos casos, vinda da própria família), viver os traumas que um relacionamento abusivo pode causar (e, muitas vezes, esse é o contato que muitas pessoas tem com o primeiro "amor") ou ter uma gravidez precoce, seja ela utilizada como fuga (e nesse caso, acredito que ela não é uma escolha, já que se uma pessoa precisa passar por algo que ela não quer para ter condições de vidas básicas, tem algo errado, não é como se ela estivesse escolhendo fazer isso de fato) ou que aconteça por outras razões. Por outro lado, fico contente que atualmente debates sobre esses assuntos sejam levantados e que pessoas que, infelizmente, ainda passam por isso estejam tendo um pouco mais de voz. Na época em que você tinha a minha idade, por exemplo, era inviável uma jovem apresentar relatos sobre episódios homofóbicos que tenha passado e ser ouvida por pessoas que não tinham passado pelo mesmo que ela, atualmente, temos livros, entrevistas e filmes que retratam isso; antigamente tinha-se como expressão popular o "em briga de marido e mulher, não se mete a colher", agora já sabemos o quanto esse pensamento é ridículo e apenas perdura o machismo e os relacionamentos abusivos na nossa sociedade; há alguns anos atrás, até mesmo o meu post no blog falando sobre os assuntos que o filme "Tove", ou "Assim como no Céu" falam, causaria um escândalo, agora pessoas com um pensamento mais conservador podem achar um absurdo, mas eles são recebidos de braços abertos por grande parte do público. Sendo assim, acredito que as coisas estejam melhorando, em passos de tartaruga sim, mas caminhamos para um futuro um pouco mais igualitário e isso me deixa um pouco mais contente.
ExcluirEu ainda não li nada do gênero, mas com toda essa sua descrição sobre essa referida história senti bastante vontade de também se aventurar nessa HQ mesmo sendo tão triste de tão realista.
ResponderExcluirParabéns Carol por mais essa postagem tão agradável de se ler!!!
Recomendo bastante, titia! É uma leitura que vale bem à pena, nos educando enquanto ficamos vulneráveis pela sensibilidade dos temas tratados! Obrigada por ter lido! <3
ExcluirOlá, Carol! Quanta riqueza em uma só HQ, assuntos complexos e que quando trazidos para debate, ocasionam excelentes reflexões... Mas me ocorreu uma dúvida aqui, em algumas de suas análises, vc sempre traz referências sobre a Paleta de Cores pautadas na psicologia, minha questão é, será que sempre há, de fato, essa intencionalidade? Ou isso já são reflexões por Caroline? Gosto de pensar que vc entra em cada universo particular dos autores e eles compartilham suas histórias com vc! Rsrsr
ResponderExcluirNossa, ótima pergunta, mamãe! Não vou saber te responder com convicção, porque não sei exatamente o que se passa na cabeça dos autores e diretores, mas penso que muitas vezes pode ser uma intencionalidade inconsciente, sabe? A grande pegada com a psicologia das cores é que elas nos provocam sentimentos indiretos, é só perguntar para qualquer pessoa "Quando você pensa em amor, qual é a primeira cor que vem na sua cabeça?" e ela com certeza vai te responder: vermelho. Então, pode não ter sido um pensamento direto de "hmm vou utilizar rosa e cinza, porque vai passar doçura e frieza", mas um inconsciente de "acho que essas cores combinam perfeitamente com a história", sem saber exatamente o porque, mas a razão seria porque elas passam para a pessoa que escreve, os sentimentos que ela quer que o leitor sinta, fez sentido? Adorei a parte final! kkkkkkkk seria meu sonho : )
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