Encontrando minha chave para o Jardim Secreto
Olá, querido leitor! <3
Seja muito bem-vinde, sou a Caroline Moreiras, tenho dezesseis anos e aqui neste blog falo sobre cultura, então pode pegar sua xícara, sentar-se confortavelmente e se preparar para tomar um chá cultural comigo! Para hoje, certifique-se que pegou um pouco de terra para plantar as mais lindas rosas e deixar seu verão mais colorido, porque iremos conversar sobre o livro “O Jardim Secreto”, da escritora Frances Hodgson Burnett.
Capa do livro da editora Darskside
Publicado pela primeira vez em 1911 essa história sobre amor e amizade é definitivamente atemporal, tornando-se um clássico que toca os corações de seus leitores até hoje. Acredito que muitos de vocês já saibam o enredo, pois a versão do filme de 1993 fez parte da infância de diversos Millennials, mas para contextualizar: ela começa com Mary Lennox, uma garotinha de nove anos que é, em termos práticos…Insuportável.
Por nunca ter sido amada por seus pais ou por ninguém, Mary não sabia amar (nem mesmo brincar), apenas reclamar e dar ordens. Aos seus olhos tudo se tornava incômodo, triste, cinza e a única função das pessoas era obedecê-la. Logo, quando devido a morte dos seus pais ela precisa se mudar da Índia para a mansão de seu tio que é tão amargo quanto ela, sua vida vira de cabeça para baixo.
Mary conhece Martha, uma de doze crianças que moram na charneca e que agora iria servi-la, ou ao menos, era o que a menina pensava. Ela tem uma personalidade marcante e, durante a história, mais ensina a garota do que a serve. Com a sua doçura, tagarelice e inocência da infância, Martha incentiva Mary a brincar, pular corda, tomar ar puro e comer melhor, começando de fato, a viver. Além disso, a apresenta a Dickon, seu irmão encantador de animais que consegue com sua magia, modificar o olhar de Mary sobre o mundo.
Deste modo, os dois tornam-se uns dos personagens mais importantes da história e guias da protagonista, pois aos poucos, vão a ensinando a se apaixonar pela vida. O mesmo acontece com o leitor. Também guiados por Martha e Dickon temos uma mudança em como enxergar o mundo. As descrições no início do livro nos geram irritação e ansiedade, assim como muitas vezes o nosso cotidiano agitado e cansado do mundo líquido. Com o contato entre eles, viajamos para um local longe de nossa realidade: uma casa distante da cidade, com diversos jardins para que possamos nos aventurar.
Então, com o desenrolar vamos ficando curiosos já que, junto de Mary, estamos conhecendo outra cultura. Ela escuta pela primeira vez o sotaque de Yorkshire e alguém descrevendo o como a vida pode ser bonita. Nós voltamos no tempo e lembramos como a mente infantil é livre para criar novos universos a partir de simples coisas que encontra no real, como uma flor ou um sabiá.
Portanto, é possível perceber que “O Jardim Secreto” nos guia em uma linha do tempo mística e sensacional, nos fazendo desconstruir nosso olhar monótono e nos abrir para o que de bom a vida tem para nos oferecer. Essa história é mágica, de verdade, não há grandes tragédias nela e têm um ritmo lento que pode cansar alguns leitores, mas definitivamente vale a pena. Eu literalmente sorria enquanto lia, queria ir na janela para encontrar desenhos nas nuvens e chamar pela magia para curar as partes machucadas da minha alma.
Inclusive, o ritmo lento é essencial para o impacto que a história quer causar, pois nos faz encontrar beleza na simplicidade, diversas vezes me encontrei em êxtase pela delicadeza da descrição do café da manhã que a mãe de Dickon preparava: pães e batatas assadas, com leite, mel, cremes e geléias, que possuía tanto amor, que era impossível não me apaixonar.
Também, as descrições são um ponto fortíssimo dessa história. Adorei todas elas, porque diferentes de alguns clássicos, não extrapolam o limite do necessário e são feitas com tanta delicadeza que nos deixam com o coração quentinho. Esse livro é bastante visual, especialmente por grande parte dele se passar no Jardim Secreto, então é fundamental que tenha descrições o suficiente para que possamos visualizar o jardim, os animais e nos encantar por ele. E, sinceramente, foram feitas de forma tão boa que eu consegui sentir o aroma do mel das abelhas e do verde da urze.
Nessa foto você pode ver um histórico de leitura que adicionei no meu skoob enquanto lia o livro, junto de algumas frases e descrições da história. Meu skoob: Caroline Moreiras
Para mim, essa é história é uma metáfora com atmosfera mágica sobre a força do pensamento, tratando até de assuntos que estão sendo mais discutidos atualmente como a “lei da atração” (independente de você acreditar nela ou não, recomendo a leitura, porque a história em si é maravilhosa). Quantas vezes nem tentamos fazer algo pelo simples medo de não conseguir? Quantos de nós não temos crenças limitantes que nos impedem de seguir em frente sobre algo que aconteceu há tempos atrás? E o que será que aconteceria se com ajuda da natureza e da amizade, pudéssemos simplesmente mudar nosso olhar e ter o incentivo de pessoas que amamos para acreditar? É o que você verá nessa história que tem um tom extremamente positivo e esperançoso sobre a vida.
Eu tive a sorte de ganhar de presente de aniversário de um amigo querido a edição da Darkside quando eu mais precisava ler. Recomendo que você, querido leitor, se aventure nessa história quando estiver se sentindo um pouco para baixo, tenho certeza que ela irá melhorar seu humor, ou mesmo quando estiver feliz, só para ficar mais feliz ainda!
Gostaria de fazer um destaque sobre meu carinho com essa edição e recomendar o investimento nela, se possível. A editora Darkside decidiu publicar esse livro em 2020, pois em meio às dores da pandemia, muitos de nós estávamos tristes, com raiva e desesperançosos, já que não tínhamos perspectiva de futuro. “O Jardim Secreto” nos dá esperança e consegue nos gerar um pouco de conforto, mesmo que seja apenas enquanto estamos lendo. Além disso, também fala sobre empatia e sempre, mas especialmente durante esse período, ela é fundamental. Logo, já adorei a edição só por esse motivo, senti que foi uma seleção cuidadosa com os leitores, me senti olhada.
Outro ponto que é importante ressaltar é que, apesar de todos os pontos positivos que o livro apresenta, ele foi escrito em 1911. Então, há diversos trechos que atualmente já sabemos que não são aceitáveis. A protagonista é extremamente racista e tem várias falas que ofendem muitas minorias, isso acontece com outros personagens da história.
A edição, foi cuidadosa em destacar esses pontos, tanto no desenrolar da história quando eles apareciam, dizendo que a editora não concorda com nada disso e que atitudes como essa não devem ser aceitas, quanto na nota final também. Por ser um clássico infantil, há um diálogo com os pais, destacando a importância deles ensinarem para seus filhos que isso não é certo e deve sim ser criticado. Esse destaque é essencial, pois proporciona uma leitura atenta e sensível, mostrando pontos que, muitas vezes, passariam direto aos olhos de alguns leitores.
Por fim, eu preciso falar sobre a beleza dela. Esse livro é maravilhoso, lindíssimo! Com uma capa completamente detalhada e ilustrações da Maria Sibylla Merian, uma naturalista e ilustradora científica alemã de 1600, temos uma experiência completa de leitura, nos tornando cada vez mais imersos no Jardim Secreto.
E você, querido leitor, já leu esse livro? Caso nunca tenha lido, comente aqui uma história que fez você se apaixonar pela vida. Pode ser um livro, filme, algo que ouviu, qualquer coisa!
Obrigada pela atenção e te espero no próximo post <3
Por,
Carol Moreiras
"não julgue o livro pela capa" , julgo sim e é maravilhosa
ResponderExcluirEXATAMENTE!! isso é uma farsa, temos que julgar sim!!
ExcluirMesmo não tendo lido já dá para afirmar que vou gostar, porque em geral, todos nós temos nossa "porção" criança que nos ajuda muitas vezes a ver, viver, enxergar a vida com alguma inocência nos assuntos "adultos". Muitas vezes os chamados livros infantis abordam assuntos que de tão sérios deveriam ser indicados para os mais velhos. Claro que todos os livros tem seu valor mas é melhor ler o Jardim Secreto, As Crônicas de Nárnia, etc, do que os de autoajuda. É mágico a força de um livro, o impacto que uma história pode causar em nossa mente (algumas pessoas até sorriem enquanto leem, as vezes querem ir na janela para encontrar desenhos nas nuvens...). Sobre o capricho dessa edição, que legal o projeto da Darkside com seus vários selos mas sempre privilegiando o bom acabamento e como uma boa história mexe com nossa cabeça o "papel para presente" hipnotiza nossos olhos. Eu gosto de histórias da vida, das pessoas. Há um livro de Pablo Neruda (Confesso que Vivi) que quando ele narra suas memórias, especialmente as de criança, me transportam para aqueles momentos. Atualmente estou lendo Em busca do tempo perdido. Lí uma entrevista do ator Lima Duarte onde ele diz que "o melhor pé é o que está fincado na roça" e suas idéias e sentimentos falaram alto para mim (mas temos que contextualizar a sua idade, quase 92 anos, portanto suas sensações podem não corresponder a dos jovens). Um filme que adorei e que quis me teletransportar para o passado foi Meia-Noite em Paris. Outro excelente é um musical: La La Land. Suas postagens tem sido nossa sobremesa semanal. Obrigado.
ResponderExcluirConcordo super, padinho, com essa questão de que os livros infantis abordam assuntos que deveriam ser indicados para os mais velhos. Os livros clássicos, são clássicos justamente por isso, independente da época, podemos nos identificar com eles, por isso temos livros como "O Pequeno Príncipe", que às vezes tocam mais adultos do que crianças em si. Mas mesmo que não sejam clássicos, há um livro contemporâneo chamado "A Parte que falta", ele é infantil, mas eu chorei lendo, recomendo a leitura.
ExcluirVerdade, padinho! Eu falo brincando, mas essa coisa de não poder julgar o livro pela capa é a maior mentira existente, há várias edições de por exemplo "1984" que apesar de terem os mesmos elementos, cada uma delas nos faz ter uma visão do que iremos encontrar no livro. A da "Companhia das Letras" parece que você é observada de várias esferas diferentes, já a da "Amazon Classics" passa a ideia dessa ditadura tecnológica, porque é uma câmera na capa. Divertido isso!
Adorei as recomendações das histórias! Já ouvi falar do filme Meia-Noite em Paris e La La Land, mas ainda não assisti, porém sei que a fotografia do musical é maravilhosa. Vou procurar os livros!
Eu que agradeço por se dedicar as minhas postagens com tanto carinho <3
Como sempre Carol, você me faz sentir vontade de conhecer essa obra através do livro porque apenas a conheço através da versão do filme de 1993 e com certeza eu também iria me apaixonar por esse trecho do livro que descreve o café da manhã que você comenta "diversas vezes me encontrei em êxtase pela delicadeza da descrição do café da manhã que a mãe de Dickon preparava: pães e batatas assadas, com leite, mel, cremes e geléias, que possuía tanto amor, que era impossível não me apaixonar. "
ResponderExcluirFique curiosa nessa sua impressão sobre o livro que você descreve "Para mim, essa é história é uma metáfora com atmosfera mágica sobre a força do pensamento, tratando até de assuntos que estão sendo mais discutidos atualmente como a “lei da atração” (independente de você acreditar nela ou não, recomendo a leitura, porque a história em si é maravilhosa)", já que eu sempre acreditei que a força dos nossos pensamentos e vibrações positivas contribuem bastante nas nossas atitudes e tomadas de decisões na vida para a realizações dos nossos desejos.
Concordo com o comentário do Jaime na parte que ele fala "Claro que todos os livros tem seu valor mas é melhor ler o Jardim Secreto, As Crônicas de Nárnia, etc, do que os de autoajuda."
No momento não tenho em mente nenhum livro específico que me fez me apaixonar pela vida, mas aprecio bastante os livros com histórias fictícias de magia que me transportam para uma realidade paralela em que viajo também nas descrições poéticas de sensações que o escritor consegue nos transmitir de tanta perfeição para se expressar, chego até a sentir vontade de comer ou beber algum alimento descrito com tanto sabor e aromas que me causam esse impacto rsrsrs
Muito bacana mesmo isso da atitude da editora Darkside em publicar esse livro em 2020 pelos motivos que você comenta do momento que ainda atravessamos. E além disso de você comentar que também não deixa passar direto aos olhos dos leitores trechos que não são aceitáveis atualmente.
Mais uma vez parabéns por essa postagem tão gostosa de ler e saboreá-la!!!!
Simmm, titia, eu tenho certeza que você gostaria, principalmente das descrições dos cafés da manhã, há uma delicadeza e doçura nas palavras que torna possível sentir de fato o sabor das comidas.
ExcluirTambém acredito demais na lei da atração e esse livro mostra a força dela de maneira linda, quase mística. Não posso elaborar exatamente o que acontece porque seria um spoiler, mas posso te dizer que há um personagem que nos gera identificação porque ele acreditou no que disseram sobre ele e deixou aquilo o definir.
Isso acontece bastante mesmo KKKKK ontem estava com uma vontade absurda de comer croissant de chocolate, porque a protagonista do livro que estava lendo falou tantas vezes sobre isso, que eu fiquei com desejo! Também acredito que livros de fantasia às vezes tenham um valor maior que livros de autoajuda, além de serem um exercício prático para a criatividade, viajando para mundos distantes conseguimos encontrar semelhanças com o mundo em que vivemos, analisando-o de forma muito mais crítica e atenciosa do que fazemos no cotidiano.
Adoro a Darkside, espero que ela me patrocine <3 KKKKKKKKK
Obrigada novamente pelos seus comentários tão carinhosos!!!!
Como é leve e prazeroso ler as suas postagens... Suas análises nos trazem um outro olhar, nos fazem enxergar sob outras perspectivas, assim como quando você fala a respeito das descrições no início do livro que chegam a nos gerar irritação e ansiedade, principalmente porque vivemos em um ritmo sempre acelerado, por meio de um cotidiano agitado e por vezes cansado. Além disso, brilhantemente você traz questões relacionadas ao um mundo líquido. O sociólogo Zygunt Bauman aponta que a pós-modernidade trouxe com ela a fluidez do líquido, ignorando divisões e barreiras, ocupando espaços diluindo certezas, crenças e práticas. Isso porque, houve “um tempo em que conceitos eram sólidos. Ideias, ideologias, relações, blocos de pensamento moldando a realidade e a interação entre as pessoas”. Não que ele defenda que as coisas devam ser estáticas, de modo algum, mas no momento em que vivemos, há uma fluidez demasiada, onde as coisas e as relações são descartáveis, muitas vezes, pelo simples fato de discordarmos em algum aspecto, cerceando a possibilidade de diálogo.
ResponderExcluirVocê traz que o ritmo do livro é lento e esse fator é essencial para o impacto que a história quer causar, fazendo com que voltemos nosso olhar para encontrarmos a beleza na simplicidade. E é exatamente isso que os personagens tentam trazer para Mary Lennox, uma nova forma de enxergar e viver a vida, outras formas de amar e retribuir esse amor.
Assisti ao filme quando era criança e as lembranças estavam lá, guardadinhas em uma gavetinha da memória, com a sua postagem a gavetinha se reabre, mas as lembranças já não são as mesmas, eu já não sou a mesma garotinha que assistiu o filme, por isso, é sempre bom revisitar nossas memórias.
Bauman, é interessante, concordo com algumas coisas que ele diz, outras já não. Gosto que ele defende que atualmente é tudo pautado na cultura do consumo, até mesmo as relações, já que devemos analisar se a pessoa que vamos trazer para a nossa vida irá suprir as nossas necessidades e quando ela deixar de fazer isso, vamos simplesmente descartá-la. Por outro lado, acredito que ele dê uma exagerada em sua análise, sabe? E talvez até mesmo esse exagero seja característica do próprio mundo líquido que ele critica. Se tudo fosse absurdamente fluído, não haveriam mais leitores e os dados mostram que, principalmente durante a pandemia, a leitura (especialmente entre os jovens, que seriam as maiores influências desse descarte) aumentou demasiadamente. Se tudo fosse extremamente líquido, como ele diz, não deveríamos estudar para passar em uma faculdade, para conseguir um emprego, para morar sozinho....etc etc, mas fazemos isso! Porque ainda há regras impostas por uma hierarquia social que ele defende não existir mais.
ExcluirDe qualquer forma, acredito que somos com certeza mais líquidos do que há 100 anos atrás, por isso o citei durante o texto (concordo com ele, mas não tantooo kkkkkk), e só o fato de eu ter reparado que o ritmo do livro era lento, mesmo que tenha interpretado o fato de forma positiva, prova isso! Adorei sua contribuição filosófica, concordo com o que você disse!
Que lindo, mamãe, de fato há memórias que devemos revisitar, livros que devemos reler, porque nossa visão de mundo se altera, logo as interpretações da história também!
Amei, obrigada pelo seu comentário <3