Em Contraponto e outras poesias contemporâneas

“(...) estive revisitando minhas poesias antigas

e minhas fotos também 

na ânsia de sentir falta 

percorrer os atalhos certos 

recuperar aquelas partes sofisticadamente inocentes de mim (...)”

- Em Contraponto, Bia R.D.Ramos


Olá, querido leitor! <3

Seja muito bem-vinde, eu sou a Caroline Moreiras, tenho dezesseis anos e aqui neste blog falo sobre cultura, então pode pegar sua xícara, sentar-se confortavelmente e se preparar para tomar um chá cultural comigo! Hoje, quero que seu chá esteja bem quente, para que ao ver a fumacinha dele saindo você possa enxergar poesia e se deleitar com as metáforas de seu sabor. Isso é porque hoje nós vamos falar sobre o livro “Em Contraponto” da Bia R.D Ramos e outras poesias contemporâneas que, por não seguirem demarcação de versos, rimas, possuindo também um vocabulário mais simples, nos proporcionam exatamente isso: encontrar poesia na simplicidade cotidiana. 


A capa do livro (linda, não?)

      
A dedicatória

A primeira vez que tive contato com um livro desse tipo foi em 2018, após o livro “Outros jeitos de usar a boca” da Rupi Kaur, publicado em 2014, ficar em alta. Fiquei obcecada, suas palavras eram fortes, porém ditas com sutileza. O que eu mais gostei foi a forma que que seus poemas eram divididos em partes, de modo a acompanharmos um processo de cura, onde o eu-lírico, no geral, começa com textos mais tristes e depois vai percebendo que a vida continua, mesmo que não da forma esperada. 

Esse padrão se manteve em todos os outros livros que li desse tipo e faz muito sentido porque faz com que o leitor se sinta parte da vida desse personagem (que muitas vezes é o próprio autor) e consiga relacionar os textos com a forma que viu a própria vida em momentos semelhantes. Em “Em Contraponto” temos cinco partes, sendo elas: “Em contraponto, desmancho”, “Fiz um dueto, depois me arrependi”, “Refiz minha canção do peito. Quer dançar?”, “Compus e continuo compondo” e “Em contraponto, desponto.”

Se reparar bem, todos esses títulos têm algo em comum: a musicalidade. É incrível como os próprios títulos das partes do livro já são poesia e o como ela conseguiu deixar em uníssono duas formas de arte distintas. Segundo a página três do livro, contraponto é “a arte de compor música para ser executada por dois ou mais instrumentos ou vozes”, nesse ponto, consigo visualizar uma metáfora com as duas primeiras partes do seu livro. Devido a pressão externa, uma nova personalidade é composta para o eu-lírico, ela não é real e, mesmo deixando as outras pessoas contentes é fraca, podendo ser mudada a qualquer hora por quem se incomode com alguma coisa. 

Além disso, também é possível definir contraponto como “aquilo que, embora apresente contraste ou oposição complementa um assunto ou texto”. Isso faz parte da história como um todo, mas principalmente da parte três em diante, já que ao encontrar os opostos (podendo se referir à pessoas opostas ou aos opostos presentes dentro de si), o eu-lírico primeiro se choca e entra em conflito com o que não gosta ou não parece certo estar ali, mas depois encontra no seu diferente interno meios de tornar-se uma pessoa completa e no externo, modos de se complementar. 

Logo, é perceptível que a temática da poesia de Bia centra-se no amor, mas vai para além disso, falando sobre romance, amor próprio, auto descoberta e redescoberta. Traçando essa trajetória com um vocabulário simples, porém metáforas ótimas. No seu poema “roxo”, ela diz que não pode falar com as palavras exatas o quer dizer, então simplesmente não temos ideia se o que estamos imaginando está correto, porque ele é feito completamente de forma subjetiva, incrível! 

Eu não diria que é um livro maravilhoso, ou o melhor de poemas que eu já li, mas é com certeza um livro bom, que é ótimo para passar o tempo e gerar reflexões sobre a forma que você se enxerga e se projeta no mundo. Então, para sua experiência com a poesia tornar-se completa eu recomendo que você levante da sua cama, fique no meio de seu quarto de forma determinada e leia os textos em voz alta, declamando com intensidade todos os versos, pontos e vírgulas. Eu fiz isso e confesso que minha forma de ver o livro mudou de 70% para o final, porque eu consegui interpretar os poemas com mais atenção. 

Outra coisa que sempre me ajuda a ter uma experiência melhor com as poesias contemporâneas é ler mais de uma vez. Outro livro que gosto muito é “A princesa salva a si mesma neste livro” da Amanda Lovelace. Da primeira vez que eu o li, apenas absorvi a história e gostei, nas releituras fui ganhando mais propriedade, entendendo com quais eu me identificava e porque os meus favoritos eram os meus favoritos. Gosto de fazer isso porque normalmente são livros com menos de 200 páginas que, por serem simples, podemos ler em uma hora. Quando publicar esse texto, vou ler de novo!

Um dos meus poemas favoritos, gritado em 2019


Por fim, gostaria de indicar outros dois livros ótimos que tem essa mesma proposta. Um deles, é da mesma autora do último que eu falei, mas dessa vez tem temática ainda mais feminista e de revolta, chamado “A bruxa não vai para a fogueira neste livro”, que me causou arrepios durante a leitura. Como a própria autora diz, ele não é um conto de fadas, nele não há criaturas mágicas, bruxas e princesas tentando escapar da vilania, há apenas mulheres reais, lutando contra a estrutura patriarcal que está permanecendo a mais tempo do que deveria. 

Além disso, outro que gosto muito é “Eu tenho sérios poemas mentais” de Pedro Salomão. Esse livro fala sobre se perder para se encontrar, sobre descobrir que tudo que você pensou sobre você não foi real e tentar aceitar isso. Gosto porque esse é variado, temos poemas de dois versos e textos de duas páginas, nos proporcionando um passeio com pacote completo na cabeça de Pedro, acompanhando seus amores, suas dores e crises e vendo que ele, na verdade, é assim como eu e você. Adoro isso de me ver em poesias, faz eu me sentir amada e inspirada, como se tivessem sido escritas para mim, mesmo sabendo que não kkkkk me sinto arte. 

E eu quero que você também se sinta arte, meu querido leitor, então recomendo fortemente que leia esses livros e me conte o que achou! Podemos comentar sobre os nossos poemas favoritos em um chá da tarde em uma quarta-feira por aí…E você, já leu algo parecido? Gosta de poesia? Vamos conversar nos comentários. 

Obrigada por ter lido até aqui e até a próxima quarta! 


Por, 

Carol Moreiras 




Comentários

  1. Todos esses estão disponíveis no Kindle Unlimeted e exceto por "A princesa salva a si mesma neste livro" e "A bruxa não vai para a fogueira nesse livro" são todos nacionais também! <3

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  2. Vamos lá...
    Achava que antigamente todos os versos tinham que ser rimados, independente de ser pobre, rica, rara, etc (não sabia que existiam tantos tipos de rima). Estudei um pouquinho e aprendi que desde o século XVIII esses versos são utilizados no Brasil.
    Mas o que importa é o impacto que a poesia tem sobre nossa mente. As vezes um poema que estamos lendo não está nos tocando e de repente um único verso, como se fosse uma luz, nos põe em contato com a escrita do autor ou do eu-lírico.
    Concordo que, não só falando de texto poético, mas reler uma obra de tempos em tempos, quase sempre nosso olhar enxerga outras "cores". Como você disse, também o que é lido em voz alta é diferente (prá mim sempre melhor) pois como já disse num comentário anterior o som é vivo.
    Dos 5 livros (quantos!) indicados, que também vão entrar em minhas listas (tenho várias) "Em Contraponto" já saiu na frente, por causa dos nomes das 5 partes da obra que já soam como versos.
    Gostei muito das suas análises desse universo tão lindo que são os poemas e o que eles dizem para cada um de nós. E mesmo que cada pessoa seja única pode perceber que seus sentimentos, rimados ou não, estão ali contados de uma forma poetica. Vai Carol.

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    1. Simm, padinho! Isso que sempre aprendemos sobre a poesia ter que ter uma "cara" um jeito de ser feita corretamente me lembra bastante o filme "sociedade dos poetas mortos". O professor interpretado por Robin Williams diz que ser organizado por rimas não é sinônimo de ser poesia e que na verdade, para ser poético precisa ser livre e verdadeiro.
      Às vezes, um próprio comentário pode ser poesia. Para mim, tudo que você disse já expressou esse olhar diferenciado, que foge do superficial, acho que ser profundo, mergulhar de cabeça já é uma forma de fazer poesia.
      Espero que goste bastante dos livros, eles valem muio a pena 💗

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  3. Como sempre não tenho palavras ou uma frase suficiente magnífica para definir minha Carol. Suas explanações são estupenda. Parabéns.!!!

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    1. Madinha, muito obrigada pelo seu apoio com palavras bonitas e muito carinho sempre!! Amo você demais ❤️🧡💛

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  4. Tenho me arriscado em escrever poesias, tambem fui inspirada pela Rupi algum tempo atrás, e os livros do Pedro já fazem parte da minha coleção. Peguei sua indicação e está na lista dos próximos livros deste ano, "a bruxa não vai para a fogueira neste livro". Acompanho seu blog aqui de Minas Gerais, obrigada pelas indicações. Um grande abraço.

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    1. Thainne, que incrível isso!! Fico super feliz que você acompanhe meus textos de fora de São Paulo! Também escrevo poesias, é uma sensação boa né? Parece que com as metáforas podemos expressar tudo sobre qualquer assunto que a gente queira. "A bruxa não vai para a fogueira neste livro" é ótimo mesmo, me arrepiou em vários momentos. Se você ler e quiser conversar sobre, pode voltar aqui nos comentários desse post ou me mandar mensagem no meu Instagram @carol.moreiras ! Obrigada pelo carinho 💖

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  5. Adorei isso da gente se ver em poesias... isso nos aproxima do escritor e das nossas vivências. Ver poesia na vida cotidiana depende da nossa sensibilidade e do momento pelo qual estamos passando... que a gente possa se vestir mais de poesia!

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    1. Simm, mamãe, acho que tudo pode se transformar em poesia, se olharmos com um pouco mais de carinho, sensibilidade e atenção. É aquilo que dizem sobre romantizar nossa vida, eu amo! 💖

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  6. "Gosto porque esse é variado, temos poemas de dois versos e textos de duas páginas, nos proporcionando um passeio com pacote completo na cabeça de Pedro, acompanhando seus amores, suas dores e crises e vendo que ele, na verdade, é assim como eu e você. Adoro isso de me ver em poesias, faz eu me sentir amada e inspirada, como se tivessem sido escritas para mim, mesmo sabendo que não kkkkk me sinto arte."
    Carol para mim só esse pequeno trecho do seu post, já me soou como poesia rs me impressiono com sua capacidade de despertar e aguçar minha curiosidade, em um tema que nunca apreciei, apenas pelas suas avaliações das obras em questão!!

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    1. Titiaaaa, você não tem noção do tamanho da minha felicidade em ler isso. Tenho justamente essa intenção com o blog, aguçar curiosidade para a arte, trazer um pouquinho de literatura, música e amor semanalmente. Que bom que você se interessou pelo livro, acredito que se você ler, irá gostar!! Obrigada pelo seu comentário e por através da poesia que há em você, enxergar poesia em mim 💛

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