O quão solitário é ser criança? - Se Deus me chamar não vou

"Uma criança pode sim ser mais solitária que um velho" - Se Deus me chamar não vou; Mariana Salomão Carrara

Olá, querido leitor! <3

    Seja muito bem-vinde, eu sou a Caroline Moreiras, tenho dezesseis anos e aqui neste blog falo sobre cultura, então pode pegar sua xícara, sentar-se confortavelmente e se preparar para tomar um chá cultural comigo!  Para hoje é melhor você pegar duas guloseimas para tomar com o seu chá, pois o post é dois em um! Venho aqui indicar uma história linda e também, te convidar a ver um dos meus feitos no mundo cultural (você pode ver a minha trajetória clicando aqui). Isto é porque hoje, nós vamos conversar sobre o livro "Se Deus me chamar não vou", de Mariana Salomão Carrara.


O Banner da Live

    Você já pensou em ler um livro escrito por uma criança? Não só narrado, assim como "O Jardim Secreto" (leia minha análise dessa história clicando aqui) ou "O menino do pijama listrado", mas escrito mesmo (figurativamente, a escritora mesmo é adulta). Pois é, eu nunca tinha pensado até ser convidada pelo Instituto Caju Psicanálise, que trabalha principalmente com um olhar voltado para os adolescentes, para participar de uma live literária, que foi transmitida no canal do YouTube deles. Claro que eu aceitei de cara! Foi uma experiência incrível compartilhar meus pensamentos com diferentes adolescentes de São Paulo, que por um acaso também eram escritores, assim como eu, e a protagonista Maria Carmem. E ainda, conversar com a autora do livro!!! Mariana estava na live junto com a gente e foi maravilhoso poder apresentar para ela a nossa visão de sua história, fazendo perguntas e debatendo quais pontos nos chamaram mais atenção.

    Maria Carmem está em uma das fases mais importantes da vida: entre onze e doze anos,  na sua pré adolescência. Para mim, essa é uma das idades mais delicadas do desenvolvimento, pois a inocência da infância prevalece com você, mas te apresentam a sentimentos e preocupações que antes você não conhecia, que fazem parte do mundo "real". Nossa protagonista começa a se sentir insegura com seu corpo e deixa de sorrir com os dentes, pois quando foi fantasiada de Branca de Neve para uma peça da escola, um colega a disse que a princesa era muito gordinha e dentuça. 

    Logo, nós acompanhamos o impacto que o bullying tem nela de perto, observamos sua solidão crescendo cada dia mais, seu desejo de receber atenção do pais e vemos o quanto ela é inteligente, mesmo ainda estando em banho-maria, como ela diz. Maria Carmem fala sobre caráter, machismo, solidão, bissexualidade, existência de Deus e poliamor. Todos esses assuntos são importantíssimos e alguns até polêmicos na nossa sociedade atual, porque algumas pessoas dizem que não conseguem entender o como funciona. O que chega a ser irônico, já que uma criança de onze anos demonstra sua compreensão de forma simples, direta e doce, provando que a sociedade é capaz de entender também e não é nada difícil, só precisa de um pouquinho de esforço. 

    E essa simplicidade é o mais incrível da história pois faz com que qualquer um possa se identificar, mas de maneira diferente. Uma criança de onze anos irá se ver na Maria Carmem; um adolescente irá revisitar um tempo não tão distante assim e ver que muitas inseguranças da protagonista; também são suas, outras já não mais; um adulto irá viajar para longe através da menina, mas se ver de perto nos pais (se você tiver filhos também irá se perguntar se sua forma de criar é a mesma que a dos pais dela); um idoso, se sentirá cuidado pela loja de velhinhos que sua família trabalha e verá como a geração atual pensa, se perguntando se é tão diferente da sua assim. 

    "Se Deus me chamar não vou" é um daqueles livros que são sobre crianças, mas muito mais para outras idades do que para elas. A classificação indicativa ideal é dez anos, porém acho importante ter um acompanhamento de um adulto se alguém menor de catorze anos estiver lendo, pois essa pessoa irá entender, se identificando e percebendo que há uma tristeza no enredo, mas essa identificação pode gerar sentimentos negativos. Como dito anteriormente, nossa protagonista é extremamente deprimida e solitária, ela não se sente vista por ninguém na escola, apenas pelos "dinossauros" que seriam os meninos agressivos, que apenas enxergam seu corpo. Também não se sente vista em casa, conta para gente que seu pai só comprou vinho e esqueceu o suco de laranja no dia do seu aniversário, inveja o relacionamento saudável de seus pais e tem medo de morrer sozinha. Logo, é importante que um adulto oriente, fazendo a criança se sentir vista e escutada.


Maria Carmem sobre relações familiares

    Não é um livro feliz e trata de diversos assuntos, então os espectadores da live disseram que esse livro parecia ter 400 páginas, logo o que eu vou te dizer agora irá te chocar: só tem 157!! Mariana Carrara conseguiu transpor toda a naturalidade da vida real para essa história que é exatamente isso: real. Na nossa vida acontece um monte de coisa e a gente pensa em 1000 assuntos só em um período de seis meses, não é? Com Maria Carmem não foi diferente, um ano foi um furacão de emoções.     

    Além disso, para transpor essa realidade no papel temos um jogo gramatical que me divertiu demais. Uma criança de onze anos pode até estar no sexto ano, mas isso não significa que ela sabe como fazer as pontuações corretamente ou como começar e terminar capítulos. Logo, vamos lendo sua evolução como escritora e suas reflexões no mundo literário. O que define quem é escritor? Idade? Junto com ela, me deparei com essas reflexões e pensei: será que posso me considerar escritora porque tenho um blog e escrevo poesias ou assim como disse a professora de Maria Carmem só serei escritora daqui um tempo? O que vocês acham?

    Então, meu querido leitor, agora você deve estar se perguntando o porque você deveria ler essa história se ela é triste (caso só goste de histórias felizes) e eu te respondo, por que você não leria? É um texto curto, que da para ler em um dia porque também tem escrita simples; irá te fazer voltar por pequenos momentos ao sentimento do que é ser criança (imagine só se apaixonar por um menino só porque ele tem as mesmas iniciais que as suas!); vai fazer você se sentir visto e acolhido, independente do motivo, tenho certeza que vai acontecer; também, apesar da tristeza, te faz rir porque oras, crianças são hilárias; e ainda eu te prometo que vai te impressionar porque é cada reviravolta que sinceramente, eu não tava preparada.

    Entretanto, caso eu ainda não tenha te convencido, talvez você precise ouvir mais vozes falando sobre, inclusive a própria autora do livro. Então clique nesse link: https://www.youtube.com/watch?v=ez8DufmPBXU&t=449s e assista a nossa live literária no canal do instituto CAJU! Ver antes de ler não irá afetar sua experiência negativamente, nós falamos apenas o necessário para te deixar curioso, nada de spoilers muito grandes. Se gostar e quiser conversar sobre pode me chamar no insta @carol.moreiras que eu estarei aberta para tomar um chá cultural particular com você. 

Print de um dos momentos felizes da live

    E você, querido leitor, já leu um livro escrito por uma criança? Se você assistiu a live feita em maio do ano passado comente aqui o que pensou, se já leu o livro antes ou depois dela e quais são seus pensamentos sobre! 

    Obrigada por ter lido até aqui e te espero na próxima quarta! 

    Por, 

    Carol Moreiras

    

    

    

        

        

Comentários

  1. Ahh essa conversa foi inesquecível! Amei revivê-la nesse seu texto perfeito <3 um beijo da Mari Carrara

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    1. Mari, muito obrigada de verdade pelo seu carinho com a minha escrita e por nos presentear com esse livro incrível! Adorei demais compartilhar meus pensamentos com você na live e agora também 💗 Beijinhos de felicidade

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  2. Boa e importante a abordagem dos sentimentos da Maria Carmem que representa a pré-adolescência. No desenrolar da obra a protagonista coloca e trata com naturalidade tantos assuntos que nem sempre os adultos aceitam. Hoje discutimos muito o bullying e suas consequências. Não sei mas acredito que uns sempre caçoaram de outros sejam adultos ou crianças; mas quando se é "pequeno" e sem estrutura emocional fica difícil aceitar. Os adolescentes sofrem para entender e entrar no mundo real e isso nunca mudou; é a sociedade que tem enxergado o universo das crianças e vendo que elas tem angústias, medos, etc, embora nem sempre consigam externa-los. Relações humanas são difíceis, muitas vezes os adultos também sentem solidão, tem inseguranças como tão bem cantadas na música Pais e Filhos (Legião Urbana).
    Respondendo sua pergunta, sim, li o livro escrito por uma criança e assisti a live; na redação ao homem - aranha já percebi temas atuais que geraram reflexões e também a crítica postada por uma... adolescente.
    Parabéns.

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    1. Acredito que o que Maria Carmem faz com seu livro (digo no sentido do que o eu-lirico escreve kkkk) está exatamente ligado a isso que você falou: normalizar assuntos que são tão naturais, mas são tratados como tabus na sociedade como bissexualidade. Também tenta mostrar que todas as pessoas são complexas e inteiras, até mesmo as crianças (podem sim ter sonhos de infância, mas também podem ter inseguranças e medos que não são só do escuro ou do bicho papão). E por fim, Maria Carmem mostra que assuntos que são normalizados e todos como banais como bullying, não são, causam cicatrizes, dores, traumas e podem levar uma criança a pensar na morte. Por isso concordo com você e acredito que esse livro seja tão bonito, ele trata várias esferas de todas as idades, mostrando que todos são completos e imperfeitos.
      Adoro essa música de legião, acho que entre tantos assuntos, fala sobre crianças precisando lembrar que algum dia serão adultas e adultos relembrando que já foram crianças, e o que é mais "se Deus me chamar não vou" do que isso? Ótima relação!!
      Fico tão contente que tenha visto a live e ainda, que tenha lido o livro!! Obrigada pelo apoio e pelo carinho, padinho 💖💖

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  3. Carol li o livro somente depois da live, que foi maravilhosa e muito empolgante a riqueza dos comentários de cada participante!!! Apesar de ser uma história triste, mas como você mesmo comentou "agora você deve estar se perguntando o porque você deveria ler essa história se ela é triste (caso só goste de histórias felizes) e eu te respondo, por que você não leria?" e é exatamente isso porque vale muito a pena ler e realmente me fez voltar a vários momentos dos meus sentimentos alegres e de angustias quando criança, mas o mais interessante e marcante mesmo além da simplicidade da escrita é de como a protagonista aborda os assuntos mais polêmicos e tão cheios de tabus para uma grande parcela dos adultos que se preocupam mais em julgar a vida pessoal de outras famílias e ainda reproduzem os mesmos preconceitos na mente dos seus filhos, do que se preocupam em saber o que se passam na cabeça dos filhos e que tipo de criança até desumana e cruel estão se tornando na escola com as demais, como retratado nas atitudes dos "dinossauros" e para mim essas crianças até desumanas geralmente são reflexo de pais medíocres. E por outro lado também em vários momentos que a personagem protagonista descreve do quanto faltava seus próprios pais olharem verdadeiramente para ela como um ser completo que só necessitava de mais apoio, colo e orientação para encarar as adversidades da vida que iniciam enquanto crianças e pré-adolescência ao contrário do que muitos adultos costumam acreditar que nessa fase a vida obrigatoriamente seja perfeita e feliz.
    E sobre sua pergunta Carol de: O que define quem é escritor? Idade? Junto com ela, me deparei com essas reflexões e pensei: será que posso me considerar escritora porque tenho um blog e escrevo poesias ou assim como disse a professora de Maria Carmem só serei escritora daqui um tempo?
    Apesar de eu ser leiga no assunto, mas acho que você pode sim já se considerar como escritora e que com o tempo de prática você apenas irá se aperfeiçoar porque acredito que ninguém se torna escritor simplesmente por ter publicado o primeiro livro ou porque simplesmente chegou na "idade certa" para tal título.
    E mais uma vez parabéns pela sua participação tão marcante na live!!!

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