Uma história de pessoas normais com seus problemas reais - Adultos
“Tenho medo que meu objetivo seja não encontrar a pessoa certa, várias e várias vezes.”- Adultos, Emma Jane Unsworth
Olá, querido leitor! <3
Seja muito bem-vinde, eu sou a Caroline Moreiras, tenho dezesseis anos e aqui neste blog falo sobre cultura, então pode pegar sua xícara, sentar-se confortavelmente e se preparar para tomar um chá cultural comigo! Hoje vou indicar um livro que eu acredito que muitas pessoas não vão gostar, porém é uma leitura super válida mesmo assim, então abra sua mente.
Uma das minhas booktubers (influenciadora de livros) favoritas é a Livresenhas. Logo, após ver um vídeo dela indicando histórias com a mesma vibe de “Pessoas Normais” da Sally Rooney, que viralizou no tiktok, fui obrigada a adicionar “Adultos” da Emma Jane Unsworth na minha lista (você pode ver o vídeo clicando aqui , recomendo bastante) e é sobre ele que vamos falar hoje!
O li com o meu clube do livro e percebi que ele é exatamente isso: uma história sobre pessoas normais, com problemas reais, que na maior parte do tempo são causados por falta de terapia e comunicação. Porém acredito que ele tem um diferencial que o torna mais especial, esse livro contemporâneo é uma sátira e através do humor irônico crítica a sociedade atual; o nosso vício em redes sociais, a nossa ansiedade exacerbada e o desejo de pertencer a algum lugar, de sermos vistos, sermos amados.
Se Bauman encontrasse esse livro e ninguém avisasse que é uma sátira nosso mundo estaria perdido porque ele iria enlouquecer. A protagonista tem 30 anos e é insuportável, vive a vida em função das redes sociais, abandonando sem ao menos perceber, laços que foram construídos antes de seus vícios. Emma Unsworth é uma frasista maravilhosa, eu grifei quase que todas as palavras da história, mas há algumas que caindo nas mãos de Bauman seriam perfeitas para comprovar o nosso mundo líquido, onde tudo é instável, efêmero, a quantidade é valorizada em relação a qualidade e nós somos viciados em pequenos momentos de aprovação que não são nem reais de fato.
Algumas delas são: “Se você posta alguma coisa nas redes sociais e ninguém curte, será que você existe?”; “Antes eu fazia as coisas só pelo prazer de fazer, mas agora o desempenho das minhas atividades nas redes sociais é um fator definitivo” e “Não estou brincando. Os terapeutas ainda não se especializaram nisso? Não existe reabilitação de redes sociais? Deve existir.” (concordo plenamente). Esses todos são pensamentos de Jenny, nossa protagonista que passou 20 páginas tentando decidir a legenda de uma foto de croissant.
Há quase 4 milhões de posts para a #croissant no instagram (e quase cem mil para #croissant🥐)
Tudo isso parece muito irônico e exagerado, não é? E claro que tem que ser, afinal esse desconforto, o fato de não gostarmos da personagem principal que faz com que esse livro seja uma sátira, ela não parece real. O problema é que ela é, apesar dela ser chata, irresponsável e quase maluca, eu me vi na Jenny diversas vezes. Não desse jeito ruim, eu juro que sou legal, mas só o fato de eu ter *postado no instagram* uma frase do livro que dizia “saia do celular” diz muita coisa; e ter ficado pensando sobre o quanto as pessoas iam achar que eu era ridícula depois disso por uns 30 minutos diz mais ainda. E olha que eu me considero bem controlada nesse ponto de vício.
E é por isso que eu acho que muitas pessoas não vão gostar do livro, é duro se identificar (nem que seja um pouco) com personagens chatos. Não pense que está livre! Mesmo que você, por algum tipo de milagre do universo tenha menos de 50 anos e não seja nem um pouquinho viciado em redes sociais, eu tenho certeza que se verá na Jenny, porque ela é um reflexo de todos os problemas individualistas de nossa sociedade: egocêntrica, carente, possessiva e tentando parecer descolada ela só buscava ser amada…Quem não quer ser amado? Nós só buscamos isso de formas diferentes, nossa protagonista procurava através de curtidas e você, busca como?
Não só, mas também, como eu disse anteriormente, diversos problemas poderiam ser solucionados com conversa e terapia e isso irrita, mas nos diverte. Há dois capítulos do livro que são meus favoritos: acompanhamos Jenny em sessões de terapia. Eles são narrados em monólogos de sua auto reflexão e é hilário como tudo nela fica transparente, sem que ela perceba, e o como ela tem raiva disso. Além disso, no mesmo tópico, temos uma personagem apaixonada por astrologia e misticismo que não acredita em terapia e vemos que, claramente, ela era a que mais precisava porque, se tivesse feito, a protagonista seria super gostável (para entender leiaaa).
Não é uma história que vai funcionar para todo mundo, mas definitivamente todo mundo deveria dar uma chance porque vai te gerar várias reflexões e tem pontos positivos, como por exemplo: por ter vários diálogos, mesmo tendo 400 páginas, é super rápido de ler, acho difícil ficar empacado. Além disso, pegando a ironia da coisa, tudo se torna divertido e menos desesperador e, dependendo do ponto de vista (hahaha), tem um final feliz.
E por trás de toda a crítica, também temos uma boa história. O plot é bem desenvolvido, não encontrei falhas no roteiro, tudo é bem conectado e nada surge sem sentido. Todos os personagens são esféricos, complexos, não há um mocinho, não há um vilão, só pessoas normais, com defeitos, qualidades e problemas reais. Por fim, devo ressaltar novamente que as frases são lindas e falam tanto sobre as redes sociais, quanto sobre amor, consumismo, amizade, família e infância (sim, vários temas).
Portanto te peço para por favor dar uma chance para esse livro!! Apesar do nome ser “adultos”, a classificação é +16, então fique tranquilo se for menor de idade.
Capa do livro (adoro a dinâmica da organização)
Querido leitor, hoje nos comentários você está livre para falar o que você quiser, seja comentar sua relação com as redes sociais, dizer se ficou interessado para ler ou não, se já leu algo parecido (e gostaria muito de saber opiniões sobre “pessoas normais”!). Fique de boa, mas vamos conversar :)
Obrigada por ter lido até aqui e te espero na próxima quarta!
Agora pode voltar pro instagram.
Por,
Carol Moreiras
Acho que vou gostar desse livro. Gosto desse humor mais ácido, sarcasmo, sátira, ironia. Esse tipo de recurso permite que a gente trate de problemas bem sérios com certa leveza. O que dá pra comentar sem ter lido? Talvez que as redes sociais são bem perigosas e devem ser usadas com moderação. Mas, antes delas, já havia a janela, e a grama do vizinho vista por ela já era sempre mais verde... Já havia a aparência externa, os lugares badalados pra se frequentar, as roupas de marcas famosas, os relógios de ouro, os carros de luxo. Então acho que não dá pra criticar só as redes sociais, né? Mas pela sua resenha acho que é justamente esse o ponto do livro. Apontar uma lanterninha pra algumas das nossas sombras... Esse eu fiquei curioso pra ler.
ResponderExcluirSimm, papai, realmente; Gil Vicente já utilizava desse curso desde meados de 1500 dizendo "ridendo castigat mores", isto é: rindo, castiga-se a moral. O humor, a sátira e a ironia são os melhores recursos para críticas, já que rindo o público (ou o leitor) se enxerga no personagem e inicia uma auto reflexão. Concordo!! As redes sociais são perigosas sim, mas são só um reflexo do pensamento da sociedade que existe desde sempre. Acho que você vai gostar do livro, depois me conta o que achou! ✨
ExcluirQue livro interessante... quero ler! A ideia trazida de medirmos a nossa importância pelo número de curtidas tem sido uma prática adotada, deixando algumas pessoas frustradas quando esse número fica abaixo do esperado... quanta ansiedade criada! Toda essa história me lembrou o 1° episódio, temporada 3, da série Black Mirror, intitulado “Nosedive” (em português “Queda Livre”), que aborda justamente essa necessidade cada vez mais latente da aprovação alheia... quem não assistiu, assista! Vale à pena!
ResponderExcluirEu adoro esse episódio, mamãe!! O que eu mais gosto nele é porque apesar de parecer uma distopia, distante da realidade é tão perto...Como você disse, a gente se frusta quando tem um número de curtidas menor do que o esperado, mas diferente do que muitos pensam, isso não é algo exclusivo da geração atual, acredito que cada uma enxerga isso de uma maneira, mas é presente em todas! Importantes reflexões...
ExcluirAlém de me deleitar com suas postagens, indicações de filmes, peças, exposições, agora descobri que existe uma tal de booktubers🤭. Vi o vídeo da Lívia e parecia que estava lhe ouvindo tanta a semelhança ao discorrer sobre livros ( a vibração da jovem ao falar é contagiante). Bom, não sei se é por já ser sexagenário (a meio caminho de ser septuagenário [que palavra feia]) mas a minha relação com esse mundo virtual (com seus haters, influenciadores, cancelamentos, curtidas) é quase inexistente. O mundo tecnológico é bem-vindo pois essa revolução muda nossa vida prática prá melhor. Já falando da vida real inserida nesse novo mundo é óbvio que há novas expectativas que levam muitos seres humanos, a uma ansiedade, as vezes, doentia por não se encaixarem num mundo irreal. Hoje as coisas acontecem muito rápido, são descartáveis, compramos "tudo", mesmo quando nossa conta corrente melhora a felicidade é efêmera e aí já precisamos comprar outra coisa e outra e outra. Acho que por isso mesmo os laços de amizade, da família tem que ser reforçados sempre pois no final das contas essas são as relações verdadeiras.
ResponderExcluirP.S. Espero ter ainda muitos anos de vida pois tenho tantos livros para ler e semana sim, semana não, você acrescenta mais alguns😁.
Continue.
Pois é, padinho!! Adoro os booktubers/booktokers etc, acho que eles demonstram uma parte do bom uso da internet; é lindo poder compartilhar nossos pensamentos com milhões de pessoas fazendo indicações literárias!!
ExcluirAgora lhe provoco uma reflexão: concordo sim que grande parte do que vemos nas redes sociais não é verdade, é apenas uma pequena parte da realidade, mas será que esse termo "mundo irreal", é o correto para se referir à elas? Parece que cada vez mais as redes sociais se tornam uma parte obrigatória do nosso cotidiano, atualmente um adolescente que não utiliza o Instagram é considerado alienado, estranho e pode até ser excluído da maioria dos outros grupos de amigos. Isso é doido, não é? Mas para mim só demonstra que essa "irrealidade" agora faz parte da vida real, é como se não desse pra se afastar, são coisas atreladas.
Vai ter muitos mais anos de vida sim, padinho!! Ainda precisamos debater sobre diversaass histórias 💛
Poxa Carol, assim como todos os comentários anteriores, também achei bastante interessante esse livro e curiosa para ler. E acredito e concordo que atualmente uma das maneiras de aprovação são através das redes sociais, porém essa aprovação apenas ampliou a maneira de se expor para os demais porque realmente sempre existiu em todas as épocas, seja pelo consumismo em que quanto mais bens materiais o individuo tivesse perante aos "amigos" mais bem quisto você se tornava e se torna até hoje.
ResponderExcluirVerdade, titia, as redes sociais são só uma forma de demonstrar essa comparação e esse consumismo que sempre existiu. Através delas, nós só aumentamos a escala da nossa exposição: antes só podíamos nos comparar com quem víamos todos os dias, agora podemos fazer isso com o mundo todo, basta procurar por um @ no Instagram. Muito interessante isso!
ExcluirQue forte isso... Jenny precisou de
ResponderExcluir20 páginas para decidir a legenda
para a sua foto, afinal ela era só mais
uma entre milhares de posts para a
#croissant e chamar a atenção era
a sua meta. Esse tipo de
comunicação tem estado cada vez
mais pressente em nossas vidas, e
para tudo há um lado negativo
quanto positivo. Eu mesma
incorporei o Tik Tok em um dos
meus passatempos prediletos, pois
vejo de dancinhas, receitas de refeições
práticas, amor e inteligência dos pets,
até assuntos mais sérios. Porém, sei
que assim como tem muita coisa divertida
e assuntos interessantes, há também
informações equivocadas, é importante
sabermos selecioná-las e procurarmos
outras fontes seguras. 🌸💖🌼
Simmm, vovó, isso é verdade! Concordo com você; as redes sociais acabam sendo ótimos passatempos (principalmente o TikTok rsrs) e nos divertindo porque tem muita coisa positiva e bonita, mas como você disse, sempre é importante checar outras fontes porque pode ser que tenham informações equivocadas e não só isso, também é importante exercitarmos outras atividades para não ficarmos como Jenny, completamente viciada e sem perspectiva de vida.
ExcluirInclusive, as fotos para a #croissaint são lindas! Fiquei com fome!
Muito obrigada pela sua contribuição 💗💗💗