Beyond Van Gogh - Uma imersão em seus sentimentos

 "Muitas vezes tenho a sensação de que a noite é muito mais rica em cores do que o dia, colorida com tons de violeta, azul e o verde mais intenso." - Vincent Van Gogh, em carta para seu irmão Theo.

  
Imersa na "Noite Estrelada"

Olá, querido leitor! <3 

    Seja muito bem-vinde, eu sou a Caroline Moreiras, tenho dezesseis anos e aqui neste blog falo sobre cultura, então pode pegar sua xícara, sentar-se confortavelmente e se preparar para tomar um chá cultural comigo! Semana passada eu me senti mais perto do meu artista favorito, como se em uma tarde a gente tivesse ido tomar um café (ou chá) e ele me contasse todos os seus sonhos e sentimentos. A exposição "Beyond Van Gogh", no shopping Morumbi em São Paulo, ficará disponível até o dia 03 de Julho (não é gratuita) e faz parte das comemorações oficiais do aniversário de 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. 

    Sou apaixonada por exposições que partem de um artista para ir além dele, assim como Constelação Clarice e a de Carolina Maria de Jesus (se você ainda não leu minha análise delas, clique aqui), mas essa, para mais de ir além de Van Gogh de fato proporciona um mergulho para dentro dele e de nós mesmos. Com a proposta de ser imersiva, a curadoria opta por sair do tradicional, já que, a maioria de nós já conhece pelo menos o básico da história do artista: não foi reconhecido durante a vida, tinha a ajuda do irmão, cortou a própria orelha e pintou quadros deslumbrantes. Logo, nessa exposição, não iremos ter contato com uma espécie de biografia, mas sim aprender seus sentimentos e aspirações, em um jogo de luz, música, cores e elementos capazes de capturar sua alma. 

    Antes mesmo de entrar na exposição em si, já começamos uma viagem, pois o local onde ela ocorre possui uma cafeteria (além da lojinha) que você pode visitar. Sério, há algo que tenha mais a energia da França e, consequentemente, do pintor holandês que passou parte da vida lá, do que cafés com uma tonalidade azul, repletos de arte e girassóis? Uma de suas pinturas é "Terraço do Café à Noite" e acredito que a cafeteria já pode ser considerada parte da exposição, já que os aromas e cores fazem parte da experiência sensorial e nos relembram dessa obra tão linda. 

 
"Terraço do Café à Noite"

 
Eu com os girassóis que ficam ao lado da cafeteria

    Após entrar de fato na exposição, em um primeiro momento, somos guiados para a leitura de cerca de vinte banners que nos abrem Van Gogh. De maneira didática e sentimental, os textos explicam o que suas pinturas querem dizer, sua técnica da mistura consciente de cores, suas inspirações e nos apresentam possíveis sentimentos que elas podem nos proporcionar. A ideia é que todos possam entender sua obra que às vezes é tratada como algo difícil, devido a complexidade da vida e dos pensamentos do autor, e ir se conectando com seus detalhes, de maneira simples, se sentindo parte dela. Portanto, ela é imersiva pois você entra na obra e nos pensamentos de Van Gogh. 

    Além disso, ela desmitifica a ideia de que suas pinturas são tristes. Van Gogh foi um grande apaixonado pela vida, natureza e via beleza no mundano. Sua maior inspiração foi a natureza, que o tranquilizava e o encantava, mas mais que isso, ele acreditava fielmente no amor e transpunha em seus quadros a graciosidade que o cotidiano podia ter. Achei interessantíssimo ver esse outro lado dele, seu lado apaixonado, doce e verdadeiro, uma parte esperançosa que compõe toda a sua complexidade, para nos mostrar que mais do que um artista genial, Van Gogh era gente como a gente, ele era humano. 

    E sabendo disso, a curadoria foi mais genial ainda. Entrando no pensamento do artista, ela discretamente tenta nos convidar para enxergar a arte em tudo, assim como ele, fazendo com que toda a experiência se torne ainda mais completa, como parte de um filme. A simplicidade do momento, de visitar a exposição seja sozinho, com a família ou com amigos pode se tornar mágica quando você se vê através de molduras. Quando eu olhei as pessoas rindo e tirando fotos (e depois ri e tirei fotos também), eu senti que Van Gogh sussurrava no meu ouvido "Olhe, todos eles são arte também! mande-os ficar parados, vou pintar um retrato.", é emocionante.  Se possível, permita-se viver essa experiência, por duas horas saí da realidade e me senti respirando arte, por todos os lados. 


 

 
Eu e minha irmã, como um retrato de Van Gogh

    Em uma carta para seu irmão Theo, ele escreveu: "As pessoas parecem pensar que é bobo e até supersticioso acreditar que o mundo pode mudar para melhor. E é verdade que no inverno às vezes é tão intensamente frio que alguém é tentado a dizer: Por que eu me importaria que é há um verão? Seu calor não está me ajudando agora. Sim, às vezes a maldade parece superar a bondade. Mas então, a despeito de nós, e sem a nossa permissão, chega finalmente o fim das geadas amargas. Uma manhã o vento vira e o gelo derrete. E então, eu preciso continuar tendo esperança.". Logo, Van Gogh me inspira a sentir que vai ficar tudo bem e que às vezes tudo que a gente precisa é um tempo na natureza ou numa exposição sobre ele. 

    Depois desse primeiro momento em que já nos conectamos com sua obra e entendemos a proposta de enxergar beleza na simplicidade, passamos pelo portal mágico, que sim, são os Girassóis de Van Gogh. Recomendo a leitura desse texto, que desvenda um pouco do mistério do porque o artista se apaixonou tanto por essas flores: https://followthecolours.com.br/art-attack/por-que-van-gogh-se-apaixonou-pelos-girassois/  . 

De perto, eles são ainda mais bonitos

    O portal nos guia para a última parte da exposição, que é sensorial por completo. Com uma trilha sonora contemporânea, mergulhamos dentro de seus quadros projetados nas paredes e no chão em 360 graus. Em luz, cores vibrantes e música, observamos a fluidez de seus quadros que vão se conectando entre si e com a gente, nos permitindo, mais uma vez sentir arte em todos os cantos. 


 
Um pouquinho da nossa visão 

    De verdade, eu tenho quase certeza que há algum tipo de magia nessa exposição, em cerca de uma hora nessa última parte eu vi: um pai dançando com a sua filha para uma música divertida que tocou, uma criança que conversava com todo mundo e sorria, me diverti com a minha irmã tentando usar minha bolsa como travesseiro para poder ver melhor a "Noite Estrelada", virei fotógrafa da mamãe com suas amigas que tinham as roupas combinando com a maioria dos quadros e vi um casal que quase chorou quando os Girassóis foram projetados. Foi como se, por alguns minutos, todo mundo lá estivesse conectado e feliz, sinto que Van Gogh ficaria orgulhoso por tudo que ele causou. 

   Portanto, querido leitor, espero que, se for possível, você se permita viver essa experiência mágica e sensorial. Beyond Van Gogh nos permite celebrar o amor e a vida, através dos sonhos e cores do artista, podemos conhecer mais de nós mesmos e enxergar beleza na simplicidade. 

   Qual é seu artista favorito? O que ele te faz sentir? 

   Obrigada por ter lido até aqui e te espero na próxima quarta! (Na programação habitual).

Por, 

Carol Moreiras

 
Eu pertinho dele

 



        





    

Comentários

  1. Acabei de ler seus comentários, me convenci
    ver esta exposição. Espero que seja breve.


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    1. Uhuuuulll, cumpri meu objetivo! Espero que goste da exposição, madinha, ela é incrível <3

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  2. Que post lindo!!! Deu vontade de estar na exposição novamente... Que imersão inesquecível!!! A sensibilidade de Van Gogh retratada de forma envolvente... e ler o post do seu blog me fez enxergar a exposição pelos seus olhos, por sua essência e singeleza!!! Um dos desejos de Van Gogh era a possibilidade de compartilhar momentos assim com seu irmão Theo, ele escreve: "Gostaria de caminhar contigo para averiguar se olhamos as coisas da mesma forma". A Theo Van Gogh, Antuérpia, 28 de novembro de 1885. Que bom poder caminhar contigo Carol!

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  3. Fiquei maravilhado com seu post. Nem sei se tenho um artista favorito, mas depois dos seus comentários o escolhido é Van Gogh.

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  4. Ler seu post, foi como visitar a exposição. Também amo Van Gogh, é um amor antigo. Desde 1997 quando li um livro sobre ele e sua complexidade. Hoje, ao ler seu texto, compreendi um pouco mais a razão de meu amor por esse artista, obrigada Carol.

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