"Quinze dias" de felicidade - Vitor Martins

 Olá, querido leitor! <3

    Seja muito bem-vinde, eu sou a Caroline Moreiras, tenho dezesseis anos e aqui neste blog falo sobre cultura, então pode pegar sua xícara, sentar-se confortávelmente e se preparar para tomar um chá cultural comigo! Antes da semana de provas peguei emprestado da minha amiga um livro incrível. Essa amiga é a que eu falei em um post anterior (inclusive se você não leu ainda minha análise de Por Lugares Incríveis, clique aqui) que me zoa porque eu só leio romance clichê e olha só...Ela decidiu me emprestar um romance clichê porque no fundo quer me ajudar a manter meus vícios, tô bem vendo. Enfim, essa história mesmo tendo sido lida em quatro dias, me proporcionou quinze dias de felicidade. Então, hoje vamos conversar sobre "Quinze Dias" do Vitor Martins. 

    Vitor Martins é um autor nacional que eu tenho certeza que deve ser um amor de pessoa e muito simpático, sinceramente é alguém que eu adoraria sair para tomar um chá e compartilhar histórias literárias e vivências adolescentes. Há poucos minutos, descobri que ele tem um blog e agora eu estou extremamente feliz. Recomendo a leitura de qualquer um dos seus posts para que você, querido leitor, possa ter uma pequena degustação do deleite que sua escrita proporciona. Aqui está o link: https://vitormartins.blog/blog/ . Além de autor, ele também desenha e adora entregar mimos para os seus leitores, postando ilustrações dos personagens dos seus livros!!! entre outras coisas lindas.

 

Essa é a minha parte favorita do seu feed do instagram. Tem uma polaroid dele, algumas de suas ilustrações, livros (óbvio) e a versão em inglês de "Quinze Dias".
Insta: @vitormrtns

    Até agora, "Quinze dias" foi o único de seus três livros que eu li, mas definitivamente pretendo me aventurar nos outros também, assim que possível. Sua escrita é simples e isso que a torna tão especial, faz com que a gente se sinta próximo dos personagens, quase como se ler seus livros causasse o mesmo efeito que ver um filme de sessão da tarde em um dia de verão. Um filme bom, claro, daqueles engraçados que deixam o coração quentinho. Também, por ser repleto de referências sobre cultura pop e LGBTQIA+, cercado por um clima brasileiro, sua leitura se torna bem fluída e fácil de absorver, mas não por isso, menos significativa, pois trata de temas delicados de maneira sensível, cativante e cuidadosa. 

    O enredo conta a história de Felipe, um adolescente gordo e gay, apaixonado pelo seu vizinho do 57 desde a infância. Como qualquer estudante de Ensino Médio literário (ou pelo menos os estudantes de ensino médio que aparecem nos livros que eu leio, eles nunca são populares), seus planos para as férias eram maratonar suas séries favoritas, dormir bastante e ficar sozinho. Entretanto, tudo muda de figura quando sua mãe (que é a pessoa mais incrível da história, simplesmente icônica) conta que Caio, o vizinho, irá ficar hospedado por longos, infinitos e torturantes quinze dias em sua casa, já que seus pais vão viajar! 

    E bem, você deve imaginar que a partir daí a vida de Felipe vira de cabeça para baixo, pois, literalmente, em minutos ele tem que lidar com a socialização, sua paixão e suas inseguranças. É muito doloroso ver a forma que ele se enxerga e acompanhar todos seus sentimentos: a raiva das pessoas da escola que fazem bullying com ele, a tristeza pelos olhares de pessoas inconvenientes na rua, que acham um absurdo alguém gordo comer (muito ou pouco, sempre tem um defeito) e a dificuldade dele de falar sobre o que ele sente ou só sobre o que pensa. 

    Mas, ao mesmo tempo, é muito bonito poder enxergar suas descobertas no decorrer das páginas, que são proporcionadas justamente por essa saída da zona de conforto. Imagina de repente descobrir que você é muito mais corajoso do que pensa, perceber que você pode ser o Batman da vida de alguém? Felipe entende, no desenrolar da história, que nem todas as pessoas são ruins e faz infinitas pesquisas no Google que envolvem astrologia e o que é estar apaixonado. 


Essa é a capa do livro. Muito muito linda.

    Entre diveros pontos positivos, uma das coisas que eu mais gostei na história foi o fato do protagonista fazer terapia! Eu já tinha visto isso acontecer antes, mas o motivo sempre envolvia algo extremamente trágico, dessa vez não, temos apenas um adolescente falando sobre seus problemas, suas inseguranças e coisas divertidas que acontecem na sua semana, podia ser eu ou você (mesmo que você seja maior de 18 anos, okay? essa página também inclui adultos kkkkkkkk). 

    Essa simplicidade é ótima, pois naturaliza fazer terapia o que, infelizmente, ainda é um tabu e visto por muitas pessoas como um bicho de sete cabeças. A psicóloga dele é incrível, além de ser preta, o que traz ainda mais representatividade para o livro que, dando um foco maior para o romance gay e a gordofobia, ainda consegue abordar com delicadeza outros temas como o racismo (mesmo que de maneira rápida), a vivência lésbica com uma melhor amiga divertida, tagarela e estilosa, além de outras questões diversas. 

    Como dito anteriormente, todos esses temas significativos, são abordados de maneira leve, bem filme de sessão da tarde. E, uma coisa que definitivamente contribui para isso é a construção do ambiente da casa de Caio, cenário da maior parte da história, que, mais que uma casa, é um lar. Uma das coisas que eu mais gosto em livros e filmes é quando o criador inventa uma tradição familiar e faz a gente participar dela. Um dos meus filmes favoritos, "Practical Magic" (irmãs bruxas em 1998, sem defeitos) tem margaritas à meia noite e brownies de café da manhã; Quinze dias tem quartas musicais, bolos todo sábado e uma mãe viciada em reality shows. Tudo isso cria uma atmosfera confortável e divertida, que faz com que o leitor se sinta vivendo as férias com os dois meninos e a mãe maravilhosa de Felipe. 

    Ainda mais, o autor também tem o cuidado de, para adicionar mais profundidade aos personagens principais, nos contar memórias "bobas" do seu passado. Sabe quando você está conhecendo uma pessoa há um tempo e ela decide te contar como foi o dia que ela foi em uma montanha russa pela primeira vez? Ou por qual razão o bolo de laranja é o favorito dela? Na hora pode parecer que não é nada demais, mas quando você para pra pensar, você percebe que essas coisas são essencias. Então, a gente conhece fatos assim sobre Caio e Felipe, até um pouco sobre outros personagens, tendo até um que, se fosse um conto de fadas, com certeza seria a fada madrinha. Mas eu não vou te dizer quem é, porque assim você vai ficar curioso e vai querer ler. Sim, essa é a minha tática, espero que funcione. 

    Por fim, devo dizer que dei 4,5 (de 5) estrelas para o livro. Isso porque eu senti falta da esfericidade na maior parte dos personagens secundários, que mesmo sendo secundários são super importantes pela interação e o impacto que causam na vida dos protagonistas. Parecia que alguns eram 100% bons e outros 100% ruins, então, ao meu ver, faltou um desenvolvimento maior nessa parte para que a história pudesse se tornar mais crível. 

    Porém, isso pode ser facilmente resolvido com uma sequência, que vai possibilitar que o leitor conheça mais as pessoas que não teve tempo suficiente para desenvolver uma proximidade (sim, eu me sinto dentro do universo do livro). Então, por favor, Vitor, escreva um livro dois para Quinze dias :) #nuncatepedinada

   Mesmo com isso, acho que deu para perceber que eu amei a leitura e recomendo para pessoas de todas as idades acima de doze anos, o que significa que minha irmã já pode ler, mesmo que ela nunca leia nada que eu indico (cof cof, Bela, isso é uma indireta direta pra você). É um livro extremamente doce, que vai fazer você se sentir menos sozinho e ter Quinze Dias de férias contentes em meio a correria do dia a dia, te dando a esperança de acreditar no seu final feliz. 

    Agora quero te perguntar, meu querido leitor, qual é seu livro nacional favorito? Vamos usar o espaço dos comentários para compartilhar indicações brasileiras! 

    Obrigada por ter lido até aqui e te espero no próximo post! Se gostou, compartilhe com algum amigo :) 

     Por,

Carol Moreiras 

Comentários

  1. Bom!!! como sempre, fico de queixo caido com suas narrativas. Seu spoiler, já me deixou a par desse livro...., brincadeirinha..rs..rs...rs. Vou me inteirar desse autor e ver mais os comentários dessa obra. Agora, o meu livro nacional preferido, apesar de eu ter muitos, o que me veio à memoria é de Machado de Assis, chamado "Conto de escola". É um autor, que li vários livros, e este em especial, aqui fazendo um pequeno spoiler, não sei se posso falar assim, é um livro, se não me engano, pois, faz muitos e muitos anos que li, fala sobre corrupção, abordando a corrupção na infância. É um livro que aborda em primeira pessoa e narra um fato que se passa numa escola. Chega:- "Very spoiler". Adoro Machado de Assis. Sugiro, e se tiver a oportunidade, de ler um livro sobre :-" A vida de Machado de Assis " de Luiz Viana Filho. Agora, existem livros que li, que para mim até hoje não me saem da cabeça. Eu era muito muito jovem, e me deixaram, alguns emocionadas, outros tristes e outros deslumbrada. Eu não tinha senso crítico da obra, adorava tudo que li, fosse ruim ou bom...rs..rs.. rs. Por exemplo uma obra que li " Guerra e Paz, de Liev Tolstói (Leon Tolstói). Maravilhoso! Existe filme, muito bom por sinal), de 1956, narrando período de Guerra ( não darei mais spoiler ), encenado por atores/atriz , Henry Fonda( galã), Mel Ferrer (galã) e Audrey Hepburn (linda). rs.. rs.. rs. Também, não fica atrás, Os miseráveis ( Victor Hugo). Existe, também, filme a respeito, que para mim é magnífico. Outro, é os " Irmãos Karamazov ( Fiódor Dostoiévski (tem filme) de 1958 estrelado por Yul Brunet, outro ator maravilhoso, que fez filmes fantásticos como " Os Dez Mandamentos, O Rei e Eu, Anastácia- A princesa Esquecida, Salomão e a Rainha de Sabá. Dá para perceber que madinha adora livros e filmes épicos? RS.. rs..rs. Ufa!!! Estou parecendo você....kkk, hoje, para escrever .

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  2. Vou dizer que me deu vontade de ler o livro desde que você levou ele para a aula kkkkkkk. Como sempre sua análise foi ótima e acho que (apesar de eu ainda não ter lido) sintetizou muito bem os pontos importantes e significativos dessa história!!
    Sobre livro nacional, admito que eu acho que ainda não tenho um predileto, porém tem uma série (não lembro se já comentei sobre ela) que se chama Perdida, da Carina Rissi, que conta a história de uma mulher de 2010 que viaja no tempo para o século XIX e tem um romancezinho bem gostoso de ler, mesmo que a protagonista seja um tiquinho irritante kkkkk. A autora tem vários livros solos que também são romances clichês e que valem muito a pena se você quiser relaxar!

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  3. Mais uma bela crítica, mais um belo livro para ler. Não sabia nada do autor e sua obra. Então segui sua sugestão e acessei o blog do Vitor Martins e, pude conhecê-lo pelo menos um pouquinho.
    Li tudo que estava disponível no link e gostei de tudo. Alguns foram bem engraçados tanto pelo nome do texto quanto pelo conteúdo, como por exemplo: "Momentos específicos dos quais eu me lembro com muita frequência" (adorei e achei o nome/conteúdo, simples, diferente, profundo; me lembrei de uma peça que assisti quando jovem que não lembro mais sobre o que era mas o nome nunca mais esqueci: "Os efeitos dos raios gama nas margaridas do campo" --- divaguei né ? ou se diz brisei ? ).
    O que me chamou a atenção foram os incentivos e o compartilhamento das técnicas, ferramentas, dicas de como escrever; também se abrir e falar da autocobrança, da falta de ideias, da mania de perfeição.
    Dos livros nacionais que li lembro com carinho de "O Quinze" (Raquel de Queiroz), "Quarto de Despejo" (Carolina Maria de Jesus) e "Dom Casmurro" (Machado de Assis).
    Termino, claro, lhe parabenizando pelas publicações semanais (nos dando bagagem cultural) e dessa vez também ao autor do livro (parece até que já o li).

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  4. Amei a indireta direta para mim KKKKK quero muito ler o livro sim! Achei super legal que você descreveu de um modo que eu consegui de fato já me sentir próxima do livro, adorei Carol!

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  5. O que é "esfericidade dos personagens secundários", minha filha?? Me dei conta de que não conheço livros brasileiros contemporâneos. Menos ainda livros brasileiros do gênero que mais gosto que é ficção científica.

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