Foxfinder - A Caça

"Eu matei uma raposa!"- Foxfinder

Olá, querido leitor! <3 

    Seja muito bem-vinde, sou a Caroline Moreiras, tenho dezesseis anos e aqui neste blog falo sobre cultura, então pode pegar sua xícara, sentar-se confortavelmente e se preparar para tomar um chá cultural comigo! Hoje, faremos o possível para nos mantermos longe da zona rural da Inglaterra, ou melhor, de qualquer lugar que alguém tente nos convencer de que as raposas são o inimigo. Ontem fui ao teatro com a mamãe, então vamos conversar sobre a peça "Foxfinder - A Caça", dirigida por Wallyson Mota, com apresentações às  segundas e terças no Teatro Sérgio Cardoso.

                                            Eu e mamãe antes do início da peça


Os Ingressos 
 

    Antes mesmo do fim dos três sinais, assim que as cortinas se abrem, temos um contato com uma coreografia que nos situa no clima da peça. Ouvindo rock, visualizamos os atores correndo de algo que não conseguimos identificar bem o que é, de maneira agoniante, mas que nos prende em curiosidade e reflexão. 

    Sobre o enredo, a peça, é uma adaptação do livro da autora britânica Dawn King, escrito em 2011, mas que, infelizmente, parece ser atemporal. Em uma parábola distópica que nos mostra o como o fascismo, em conjunto do medo, podem se alastrar de maneira rápida pela sociedade, conhecemos Sam e Jude Covey. O casal, vive na zona rural da Inglaterra (provavelmente em meados da revolução industrial) e têm vivido um ano difícil com uma sucessão de acontecimentos ruins, como a morte de seu filho, a dificuldade da colheita e as chuvas torrenciais que alagam as plantações. 

    Abalados, recebem em sua casa Willian Bloor, um agente do governo que supostamente foi para ajudá-los a resolver o problema. O rastreador de raposas, promete descobrir se sua fazenda está ou não contaminada pelas raposas, que são o pior inimigo do país e da civilização, segundo o governo. O curioso é que ninguém, nem mesmo Willian ou os professores do instituo que o treinou desde os cinco anos de idade, viu uma raposa na vida, porém acreditam fielmente que elas existem, as temem e fazem o possível para que todos temam também. 

    Deste modo, a história se desenrola pautada em uma clara mentira, nos mostrando aos poucos, as mazelas que a manipulação pode causar. Uma das minhas frases favoritas da peça foi dita por Sarah, a melhor amiga que Jude, que tinha plena consciência de que raposas não existiam, ela diz que: "Mas é claro que ele acredita, Jude! É muito fácil acreditar em qualquer coisa quando você é ensinado desde pequeno de que isso está correto!".

Divulgação pelo instagram da peça @foxfinderteatro

    Então, ao longo da obra podemos ver que todos os personagens são de certa forma vítimas e colaboradores do sistema, sendo alguns guiados pela crueldade e outros pelo medo. Jude relata,  no início, um sonho que teve durante nove anos em que sua casa estava sendo tomada por água até o teto e ela simplesmente não conseguia sair. Vemos que é assim que ela e todos as outras pessoas que vivem sob governos autoritários se sentem: paralisados, sem conseguir impedir o que acontece bem debaixo de seu nariz, pois a censura até de pensamento (como acontece também em 1984, de George Orwell), os faz acreditar que a dúvida, o questionamento em si, já é uma fraqueza que pode te deixar cada vez mais próximo de ser atacado pelo inimigo. 

    E tudo isso fica evidente através da iluminação excepcional. Com a direção de Matheus Brant, há a opção pelo jogo de luz em tons escuros, que é responsável por, junto da trilha sonora, criar uma atmosfera tensa. A luz baixa pode ser uma metáfora para a noite, em seu sentido sorrateiro e solitário. Na distopia, é como se fosse noite toda hora, pois os personagens não conseguem em momento algum visualizar uma luz no fim do túnel. Além disso, ela proporciona um teatro de sombras também nas paredes, que nos permite visualizar quem de fato é o inimigo através das projeções que aparecem de maneira gigantesca e hierárquica. Junto disso, há um telão com vídeos que conversam com o público e é como se, durante aquele momento, só estes conseguissem ver a verdade. 

Uma partezinha da dança citada no começo

    Ademais, eu não tenho palavras para descrever o quão a atuação de Carolina Fabri, Eduardo Mossri, Carol Vidotti e Ernani Sanchez foi impecável. Além da utilização do corpo como instrumento, suas expressões nos faziam esquecer completamente que o que estávamos vendo não era exatamente a vida real. O medo traduzido no olhar, a raiva, a tristeza e o ódio se alastrando pouco a pouco por todo o palco trouxeram para vida uma história tão forte e, infelizmente, não distante da realidade. 

    Portanto, devo dizer, querido leitor, que recomendo fortemente que assistam à peça que estará em cartaz até dia 14 de junho, pois ela irá te deixar sem palavras e impactado por uns 30 minutos (experiência própria), mas ao mesmo tempo, debate de um tema extremamente importante e atual. 

    Por fim, deixo minha pergunta, qual é sua distopia favorita? A minha é com certeza 1984, mas também gosto de Fahrenheit 451 (imagina só um mundo completamente sem livros?!). 

    Obrigada por ter lido até aqui e te espero na próxima quarta! Se assistir a peça, quero saber sua opinião. 

Por, 

Carol Moreiras

    


Comentários

  1. Que presente ter assistido essa peça com você! Ver a sua expressão de dúvida, indignação, reflexão enquanto voltávamos pra casa após sermos inundadas pelas temáticas da peça foi simplesmente marcante, pois raramente te vejo sem reação e mais ainda, sem palavras, pois estas sempre te acompanham... rsrsrsr
    De fato, Foxfinder traz temas atuais e trata os perigos da manipulação em nossas vidas, como o medo e o fascismo são controladores de toda uma população que apesar de nunca terem visto uma “raposa”, acreditam veemente em sua existência. Esse mito toma força e se propaga, daí a importância de se desconstruir os mitos! Desmistificar as suas verdades, pois elas são símbolo de dominação e poder.

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  2. Agora sim.....
    Li e reli sua última postagem,
    no seu blog..
    Consegui entender tudo,
    Achei sua explicação,
    magnífica, com seu olhar
    muito atento, a cada detalhe.
    Como sempre, você é sempre
    detalhista e encantadora....
    Tenho por você sempre,
    admiração total......
    🌺🌸🌺🌸🌺🌸🌺

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  3. Nesses tempos sombrios que temos vivido são sempre bem vindas essas distopias, nos alertando, informando. Pretendo ver sim.
    Assim como você também fui bastante impactado por 1984 e Fahrenheit. Recentemente assisti o filme Medida Provisória e foi angustiante.
    Até a próxima 4.feira👍

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  4. O Homem Ilustrado que traz um dos contos distópico que inspirou a clássica canção "Rocket Man", de Elton John e que também é do mesmo autor de Fahrenheit 451, me impactou bastante alguns dos 18 contos que compõe essa obra pelo fato de ter sido escrita na década de 50, mas também traz fatos extremamente atuais e assustadores do quão o sistema podem "cegar" toda uma população.
    E como o Jaime comenta também achei o filme Medida Provisória dirigido por Lázaro Ramos, bastante angustiante e forte mas que todos deveriam assistir para uma conscientização.

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